O legado incompleto da Copa

Com mais ou menos acabamentos, os estádios ficaram prontos para o Mundial. Mas muito ficou por fazer, entre obras inacabadas e projectos abandonados.

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Davi Pinheiro/Reuters

O projecto iria permitir fazer Rio-São Paulo em 80 minutos para um número estimado de 17 milhões de passageiros por ano, mas o processo de concessão da obra ainda nem sequer arrancou – vai fazer-se um novo concurso depois do Mundial. Tal como este TGV, muitas das obras que se ficaram pelas imagens virtuais estão relacionadas com transportes e acessibilidades. Segundo as contas feitas em Maio passado pela “Folha de São Paulo”, das 167 intervenções previstas nas 12 sedes do Mundial, 68 ficaram prontas, 60 estão incompletas, 28 só serão concluídas depois do torneio, enquanto 11 projectos foram abandonados. Entre os incompletos, estavam três dos estádios, entretanto “oficialmente” concluídos, embora, até ontem ainda se vissem operários a trabalhar no Arena Corinthians (São Paulo), no Arena da Baixada (Curitiba) e no Arena Pantanal (Cuiabá) – no caso do recinto de Curitiba, uma obra auxiliar, a sala de imprensa, não foi concluída, e os jornalistas irão trabalhar em tendas.

De acordo com o levantamento da “Folha”, nenhuma das cidades-sede ficou dotado de todas as infra-estruturas previstas, sendo que as mais atrasadas são Fortaleza e Curitiba – só São Paulo e Brasília têm níveis de conclusão dos projectos acima dos 70 por cento. A maioria dos projectos abandonados diz respeito à mobilidade urbana, entre estradas, linhas de monocarril, metropolitano e trajectos de BRT (Bus Rapid Transit). Apenas sete das 67 intervenções estavam prontas a meio do mês passado, prevendo-se que 32 ficassem prontas até ao início ou durante a Copa. Das restantes, 19 só serão concluídas depois da prova e nove nunca serão feitas.

Em Salvador, o metropolitano é dado como concluído e Dilma Rousseff esteve ontem na sua inauguração, mas a verdade é que, durante o Mundial, funcionarão apenas 7,3 quilómetros de linha (em 33,4km previstos) e cinco estações, incluindo as que ficam mais próximas do Estádio da Fonte Nova. Em São Paulo, por exemplo, estava prevista para a Copa a entrada em funcionamento de uma linha de monocarril a ligar o aeroporto de Congonhas com o sistema de metropolitano, mas as obras estão atrasadas – há três dias, a queda de uma viga provocou a morte de um operário – e só estarão concluídas em meados de 2015.

A presidente brasileira, que também é candidata às eleições em Outubro próximo, tem inaugurado nos últimos dias várias destas obras inacabadas, mas não estará tão cedo, por exemplo, na inauguração dos projectos de mobilidade urbana de Manaus, na Amazónia, onde só o estádio é que ficou pronto. Sem o metropolitano de superfície ou o BRT, o melhor que a cidade conseguiu fazer foi implantar um sistema de BRS (Bus Rapid Service), que consiste em abrir faixas rodoviárias exclusivas para os autocarros. Mas esta medida é limitada a poucas vias na cidade e, nas que foi implementada, complica a vida aos automobilistas.

Nos aeroportos e portos marítimos, pouco menos de metade (21 em 43) das intervenções estavam concluídas. Por exemplo, no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (que não é cidade-sede, mas foi porta de chegada para várias selecções e será ponto de passagem durante o torneio), onde a selecção portuguesa aterrou ontem, o novo terminal internacional só estará concluído em Outubro próximo, falhando em seis meses a data prevista (11 de Maio). Também ficam para depois da Copa as reformas dos terminais dos aeroportos de Belo Horizonte, Salvador, Cuiabá, Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

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