O sonho brasileiro sobreviveu
Duro teste frente ao Chile só foi decidido nas grandes penalidades, com o guarda-redes Júlio César a revelar-se decisivo. Equipa de Scolari não convenceu mas continua viva no Mundial.
Foi um triunfo feito de fé, de uma equipa que nem sempre se mostrou competente. O Brasil de Scolari continua sem convencer plenamente neste Mundial, mas teve um coração do tamanho do mundo e sobreviveu. A selecção chilena vendeu cara a derrota, ainda que só a espaços tenha sido aquela equipa vertiginosa e deliciosamente louca que se viu na fase de grupos. O desgaste físico penalizou a formação orientada por Jorge Sampaoli, que começou a pensar nos penáltis demasiado cedo. Porém, a história até podia ter sido radicalmente diferente se, no último lance do prolongamento, o remate de Pinilla fosse uns centímetros mais baixo. O ex-sportinguista acertou em cheio na trave da baliza de Júlio César – e depois, no primeiro penálti chileno, permitiu a defesa do guarda-redes.
O Brasil, e Belo Horizonte em particular, acordou de amarelo. Foi um mar de camisolas da selecção brasileira em cada rua que desaguou no Mineirão. Os gritos de “o campeão voltou” animaram as bancadas e empurraram a selecção brasileira na fase inicial da partida. Mas, num ciclo vicioso, gradualmente o ambiente arrefeceu porque a equipa não entusiasmou e a equipa não entusiasmou porque o ambiente arrefeceu.
De forma quase natural, o Brasil adiantou-se no marcador na sequência de um pontapé de canto. Estava a ser a melhor equipa até aí e tirou partido da estatura mais elevada – tinha cinco titulares com mais de 1,80m contra apenas um chileno. Neymar lançou para a área, Thiago Silva deu um toque de cabeça e, ao segundo poste, David Luiz, a meias com Jara (a FIFA atribui o golo ao brasileiro, mas pareceu ser o chileno a introduzir a bola na baliza), fez o 1-0.
Porém, o Brasil acomodou-se. Algo proibido quando se defronta este Chile, que usa “letal” como apelido e só precisa de uma oportunidade para marcar. E assim foi, tirando partido de uma inacreditável infantilidade da selecção brasileira num lançamento lateral. Hulk recebeu a bola mas tocou-a de forma displicente, deixando-a à disposição de Vargas. Bola para Alexis Sánchez, remate cruzado e tudo de volta à estaca zero. O golo desorientou a selecção brasileira, que instantes antes do intervalo quase sofria o segundo. Haveria drama até ao fim.
O sobressalto nos planos tolheu os nervos da selecção brasileira, que no segundo tempo acusou a dimensão da responsabilidade e o peso das expectativas de um país inteiro. Foi nessa altura que Júlio César disse presente, nomeadamente ao travar um remate de Aránguiz (64’).
Chegou o prolongamento e os minutos passavam com lentidão, para uma e outra equipas. O Brasil sentia a urgência de resolver o encontro. O Chile apostava tudo nos penáltis. Mas a equipa de Sampaoli esteve a instantes (e centímetros) de resolver logo a questão: uma grande jogada de Alexis Sánchez deixou Pinilla em boa posição, mas o remate embateu com estrondo na trave da baliza brasileira. O silêncio que se fez no Mineirão não foi completo porque uns salpicos de vermelho pontuavam o mar amarelo nas bancadas.
Foi esse o lance que decidiu a partida. Os chilenos iniciaram os penáltis derrotados, ainda a lamentar a oportunidade que tinham deixado escapar. Pinilla e Alexis Sánchez esbarraram em Júlio César. E Jara, obrigado a não falhar após o remate certeiro de Neymar, acertou em cheio no poste. A sorte não abandonou o Brasil, mas a equipa de Scolari ainda não convenceu.