Eduardo Berizzo, o aluno de Marcelo Bielsa
O argentino é o treinador do momento em Espanha, depois de o seu Celta de Vigo ter banalizado o Barcelona. Antigo defesa central com passagem pela Galiza, é um homem que não gosta de exageros.
Há dois dias, nos Balaídos, o clube galego protagonizou uma grande surpresa na Liga espanhola, ao derrotar o poderoso Barcelona por 4-1. Messi, Neymar e Suárez nada conseguiram perante os bravos de Berizzo, entre eles Iago Aspas, um goleador à procura de uma carreira, Nolito, a “estrela” tardia, ou Sergio Álvarez, o galego que é o guarda-redes mais baixo da Liga espanhola (1,79m). O Celta, que nunca foi campeão de Espanha, é um dos três líderes do campeonato, a par de Real Madrid e Villarreal, com cinco jornadas disputadas. Até custa a acreditar que, há dez dias, os adeptos do clube galego assobiaram a equipa porque empatou com o Las Palmas.
“O futebol tem paixão e exagera-se muito. Sendo protagonista deste tobogã anímico, não acredito muito nem nas críticas, nem nos elogios”, disse Berizzo após destruir a equipa de Luis Enrique, o seu antecessor na equipa “celeste”. E nem era a primeira vez que o fazia, sendo que já antes tinha tirado um coelho da cartola, ainda que com um resultado menos vistoso (0-1), em pleno Camp Nou. Claro que, depois desse triunfo na Catalunha, o Celta esteve dez jornadas sem ganhar e Berizzo esteve perto do despedimento.
Seja por feitio, ou por experiências passadas, a euforia não é algo que esteja presente no seu vocabulário. “A euforia leva a conclusões exageradas”, adverte. Sente-se neste discurso algo de Bielsa, ou não fosse Berizzo um seu profundo admirador desde que era um jovem jogador do Newell’s Old Boys, no início dos anos 1990. Berizzo, defesa central, estava a dar os primeiros passos na primeira equipa de Rosário, Bielsa era um treinador em início de carreira e sem experiência de primeira divisão. O Newell’s venceu o torneio Apertura e foi campeão ao vencer, na final, o Boca Juniors na época 1991-92, triunfando ainda no torneio Clausura em 1992.
Depois destes êxitos iniciais, Bielsa e Berizzo separaram-se e só voltaram a encontrar-se quando o central foi convocado para a selecção argentina, em 1998. Um novo reencontro aconteceria em 2007, quando Bielsa já era um treinador com estatuto internacional e confiou no seu antigo pupilo para ser seu adjunto na selecção do Chile.
Depois de quatro anos de aprendizagem com “El Loco”, Berizzo iniciou uma carreira a solo, mas aguentou apenas quatro meses como treinador do Estudiantes de la Plata. Tal como Bielsa depois de ter saído da selecção argentina para a chilena, Berizzo também encontrou refúgio no Chile, como técnico do O’Higgins e conseguiu, em 2014, o primeiro título de campeão da história do clube.
Um regresso à Galiza
Foi no exílio chileno que o Celta o descobriu, contratando-o para substituir Luis Enrique, entretanto convencido a liderar o novo projecto do Barcelona. Para Berizzo, era um regresso, ele que tinha estado na Galiza como jogador entre 2001 e 2005, com uma participação na Liga dos Campeões em 2003-04, época também marcada por uma descida de divisão em Espanha.
Na primeira temporada, Berizzo levou o Celta ao oitavo lugar do campeonato e, na segunda, a actual, é um dos três primeiros classificados, ainda invencível e já com triunfos sobre o Barcelona, campeão europeu, e sobre o Sevilha, vencedor da Liga Europa.
Nada que deixe Berizzo deslumbrado. Ele está focado em repetir a dose, semana após semana, sem pensar em títulos, mas a pensar sempre que pode ganhar aos melhores, tal como Bielsa lhe ensinou. “Ele mostrou-me que as coisas se constroem graças ao trabalho e à preocupação de ser sempre melhor, de buscar a perfeição.”