Joana celebrou, o namorado sofreu (por SMS)
Um no Porto, outro em Lisboa, passaram o jogo a trocar mensagens. “Parabéns, este campeonato devia ter sido nosso, mas vocês também fizeram por isso”, rematou o namorado de Joana Carvalho.
Àquela hora, o Porto parecia uma cidade fantasma, mas tudo podia mudar. A alegria explode na Avenida dos Aliados sempre que o FC Porto ganha um título. E a engenheira civil, de 35 anos, posicionou-se na rua paralela, a do Almada, num dos mais ecléticos bares da cidade, o Baixaria. “Já estamos a guardar lugar na primeira fila”, dizia.
O namorado, benfiquista, rumara ao Estádio da Luz. Fora ver o Benfica jogar contra o Moreirense. E ela, que gosta de ver jogos em casa, achara que, desta vez, não devia enchê-la de fervorosos portistas. À pinha estava o bar com caixas de fruta a fazer de bancos e um ecrã gigante numa parede a exibir o confronto entre o Paços de Ferreira e o FC Porto.
Ela foi a primeira a celebrar. Aos 23 minutos, um golo de Lucho González na transformação de uma grande penalidade. O namorado pediu-lhe confirmação por SMS. E ela explicou-lhe que fora um lance entre James Rodríguez e Ricardo. Quando Vinícius marcou, ela agitou o cachecol do Moreirense, que trouxera de casa, mas não lhe mandou um SMS. “Não vou fazer qualquer comentário. Respeito a dor dele.”
À volta dela, cantoria. Muitos quiseram tirar fotografias com o cachecol, menos por simpatia à equipa de Moreira de Cónegos do que por antipatia ao seu adversário. Um deles, Paulo Pinto, levantava-o o mais que podia. O gestor de mercados, de 44 anos, usava a sua camisola da sorte: a que comprara a 21 de Maio de 2003, na final da Taça UEFA, que o FC Porto fora ganhar a Sevilha, estava a mulher grávida do único filho de ambos.
Não se considera anti-benfiquista, nem qualifica o namorado anti-portista, Joana. Nas últimas semanas, mesmo assim, não discutiram o assunto lá em casa. Ela não suporta as piadas dele sobre a legitimidade das vitórias do clube das Antas. “Se ganharmos, vou fazer o telefonema da praxe, mas não vou provocar muito. Se perdermos, também posso telefonar. Felizmente, ele não vem para casa, fica em Lisboa até segunda”, brincava.
Ele ligou-lhe no intervalo. Queria saber tudo sobre o golo. “Ele ia a correr, estava isolado. Houve um pequeno toque, mas na linha. Ele desequilibrou-se. Foi por trás. Caiu dentro da área”, explicava ela. “Como está o ambiente por aí?”, perguntava-lhe. “O que interessa é que um de nós vai ficar feliz hoje”, concluía.
A sala já parecia convencida da vitória. O FC Porto tinha um golo de vantagem e o Paços de Ferreira menos um jogador. Paulo Pinto ainda não queria celebrar, dizia ter aprendido “a lição” com os benfiquistas, mas sentia-se tranquilo. “Isto assim tem mais piada”, dizia Joana. “Estamos habituados a não ter concorrência.”
Alegria quando, aos 52 minutos, Jackson Martínez ampliou a vantagem. “Porto! Porto! Porto!” Ela ria. “Acho que somos campeões.” A voz dela era abafada pela festa à volta. “Viva o Porto Olé!” Cardozo e Lima deram a vitória ao Benfica, o namorado de Joana deu-lhe notícia disso, mas tal não impediu a festa do FC Porto. “Campeões, campeões, nós somos campeões”. A sala ainda se unia num grito quando Joana recebeu o último SMS: “Parabéns, este campeonato devia ter sido nosso, mas vocês também fizeram por isso.”