Itaquerão corre contra o tempo e escorrega no orçamento
Arena Corinthians terá custado perto de 398 milhões de euros e será um dos estádios mais caros na história dos Mundiais.
O maior ecrã digital do mundo, com 170 metros de comprimento por 20 metros de altura; chão de mármore grego; ar condicionado em todas as áreas; 53 casas de banho equipadas com torneiras e sanitas fabricadas no Japão; relva própria dos climas frios, conservada por 43 quilómetros de tubagens, que a mantêm à temperatura adequada; 350 reflectores que proporcionam uma iluminação duas vezes superior à do Allianz Arena, do Bayern de Munique. Não se olhou a despesas na construção do Arena Corinthians, idealizado para rivalizar com os melhores estádios de futebol do mundo. Cada um dos seus 68 mil lugares irá custar qualquer coisa como 17.400 reais (5790 euros).
Com a segunda maior massa de adeptos do Brasil e, provavelmente, a mais militante e agressiva, o Itaquerão, localizado no bairro paulista de Itaquera, a 23 quilómetros do centro da cidade, não terá, pelo menos, problemas de maior em manter uma plena actividade e assistências proporcionais no final da Copa, ao contrário de outras arenas que vão receber o torneio. Alguns dos 12 palcos do Mundial, construídos em cidades sem clubes com bases massificadas de adeptos, dificilmente terão uma ocupação racional futura, como ameaça suceder em Brasília, Cuiabá, Natal e Manaus.
O principal problema do Arena Corinthians passa pela confusão entre o que é investimento privado e público. Inicialmente orçamentado em 820 milhões de reais (272 milhões de euros), a direcção do clube teve enormes dificuldades em encontrar financiamento bancário para a obra, acabando por ser a própria empresa construtora a suportar os custos iniciais. O Corinthians ainda não despendeu um tostão.
Mas faltava o restante, acabando por ser a própria Presidente brasileira, Dilma Rousseff, a desbloquear o problema, instruindo a Caixa Económica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social, detidos pelo Estado, a abrir uma linha de crédito de 750 milhões de reais (249 milhões de euros), que aceitaram em troca garantias que haviam sido recusadas pelo Banco do Brasil. E o clube contou ainda com benefícios fiscais de 420 milhões de reais (140 milhões de euros) concedidos pelo anterior executivo da Prefeitura de São Paulo. Transferências do erário que estão a ser alvo de uma investigação do Ministério Público Federal.
A grande questão é como irá o Corinthians liquidar a dívida. Uma das soluções poderá passar pelos Emirados Árabes Unidos. Andrés Sanchez, dirigente responsável pela construção do estádio, voltou esta terça-feira do Médio Oriente, após ter estado envolvido em negociações pelos naming rights (direitos de nome) do Itaquerão. Se um acordo for alcançado, poderá gerar receitas de 400 milhões de reais (132 milhões de euros), que é o valor mínimo exigido pelo Corinthians para um contrato com 20 anos de duração. A verificar-se, este será um passo importante para abater parcialmente a dívida.
Os problemas de financiamento atrasaram consideravelmente a conclusão das obras. Na última segunda-feira, o PÚBLICO testemunhou os trabalhos intensos que ainda decorriam no estádio, com tapumes em muitos locais, nomeadamente nas bancadas provisórias, que irão funcionar durante o Mundial. Certo é que a cobertura não estará pronta a tempo do torneio. A corrida contra o tempo prossegue, num recinto que deveria ter sido entregue à FIFA concluído no passado dia 15 de Abril.