Iñaki Williams é basco, africano e uma promessa de goleador

Na última quinta-feira, o jovem avançado tornou-se no primeiro jogador negro a marcar um golo pelo Athletic Bilbau.

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Williams marcou em Turim o seu primeiro golo pelo Athletic Giorgio Perottino/Reuters

Na última quinta-feira, Iñaki Williams tornou-se no primeiro jogador negro a marcar um golo pela formação basca em 117 anos da sua história, fazendo o primeiro do Athletic no encontro da primeira mão dos 16 avos-de-final da Liga Europa, frente ao Torino, um jogo que acabaria empatado (2-2). Filho de pais liberianos, Iñaki nasceu em Bilbau, mudou-se para Pamplona (Navarra), mas seria recrutado para a cantera do Athletic aos 16 anos. Começou esta época na equipa secundária que milita na terceira divisão, com 13 golos marcados, mas foi promovido à equipa principal por Ernesto Valverde em Dezembro passado e, três meses depois, ao sétimo jogo, marcou.

Não foi um caminho em linha recta aquele que levou Iñaki, um avançado de 1,86m de altura, até Lezama, a famosa academia do Athletic. Os pais fugiram da Libéria para o Gana em busca de uma vida melhor, e do Gana iriam para o País Basco. Começaram por viver em Bilbau, onde encontraram trabalho temporário na agricultura. Nasceu Iñaki e os pais mudaram-se para Pamplona, em Navarra. A vida continuou difícil para a família Williams. O pai teve de ir trabalhar para Londres, enquanto a mãe encontrou emprego num supermercado, e o jovem Iñaki agarrou-se ao futebol. Deu nas vistas o suficiente para o Athletic o agarrar, a ele e ao irmão mais novo, Nico, que anda pela equipa de infantis.

Não há dúvidas de que Iñaki está a cumprir um sonho. Na sua conta de Twitter, o jovem avançado colocou algumas fotos suas em criança com uma camisola do clube basco. Iñaki sente-se basco, mas não esquece as suas origens. “Nasci aqui, levo 20 anos aqui, mas as origens e as raízes não se esquecem. Os meus pais nasceram na Libéria e sinto que a minha família está lá. Uma parte de mim também é africana”, confessou o jovem avançado que tem sido muitas vezes comparado a Mario Balotteli, o atacante italiano com raízes ganesas. Ele não foi, no entanto, o primeiro negro a representar o Athletic. O pioneiro foi Jonas Ramalho, um defesa nascido em Biscaia, filho de pai angolano e mãe basca.

A afirmação de Williams é uma boa notícia para uma equipa sempre limitada pela sua própria filosofia e que não consegue segurar os seus melhores elementos quando os “grandes” da Europa vêm bater à porta – Fernando Llorente, Ander Herrera e Javi Martínez, por exemplo, foram, respectivamente, para Juventus, Manchester United e Bayern Munique. Williams é um bom exemplo de como a filosofia do Athletic é suficientemente abrangente, mas sem trair os princípios de protecção de identidade basca que estão na génese desta prática.

“A nossa filosofia desportiva rege-se pelo princípio que determina que podem jogar nas nossas fileiras os jogadores formados na própria cantera e os formados em clubes de Euskal Herria [País Basco]”, pode ler-se no site oficial do clube. Não é, por isso, obrigatório que os jogadores tenham nascido nos territórios do País Basco espanhol (Biscaia, Guipúzcoa e Álava), Navarra e o País Basco francês. Bixente Lizarazu, por exemplo, nasceu no País Basco francês e chegou a representar o Athletic, apesar de ter sido campeão europeu e mundial com a selecção francesa. No actual plantel está outro defesa francês, Aymeric Laporte, e já lá esteve um jogador nascido na Venezuela (Amorebieta) e outro nascido em Portugal (Victor Monteiro Oliveira, natural de Guimarães), o que só prova que o conceito de basco não está limitando pela geografia ou pelo sangue.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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