Ascensão e queda de Paulo Bento

Seleccionador nacional tomou a iniciativa e deixou o cargo dias depois da derrota com a Albânia. Acordo com a Federação rapidamente obtido. Técnico tinha contrato até 2016, mas abdicou de parte da indemnização a que tinha direito

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Paulo Bento era seleccionador desde 2010 Foto: Marcos Borga/Reuters

“A Federação Portuguesa de Futebol comunica que hoje, 11 de Setembro, termina o vínculo contratual de Paulo Bento com a FPF e ao serviço das selecções. Esta foi uma decisão tomada conjuntamente entre a direcção da FPF e Paulo Bento”, podia ler-se no comunicado do organismo liderado por Fernando Gomes. O mesmo dirigente que, há tão-só duas semanas, tinha garantido que o técnico fazia parte do futuro da selecção nacional. “Antes do Mundial fizemos uma opção consciente e ponderada, renovando com o seleccionador nacional no sentido de promover, na campanha para o Europeu de 2016, a necessária transição na equipa nacional A”, dizia o presidente da FPF no dia 26 de Agosto, numa conferência de imprensa que serviu para anunciar as conclusões da avaliação ao desempenho de Portugal no Brasil.

Uma das decisões então tomadas foi a criação de um gabinete coordenador técnico nacional, liderado por Paulo Bento e que integraria Ilídio Vale e Rui Jorge. “São três pessoas competentes, identificadas com o processo e a visão de longo prazo da FPF e em quem acreditamos para promover, ainda mais, os resultados desportivos das nossas selecções”, vincou Fernando Gomes.

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Mas essa “visão de longo prazo” esgotou-se em duas semanas. A derrota com a Albânia foi um duro golpe para o técnico e, ao que o PÚBLICO apurou, terá sido de Paulo Bento a iniciativa de colocar um ponto final à ligação com a FPF – um desenlace que não seria o desejado por Fernando Gomes. O acordo para a rescisão foi rapidamente alcançado, com o técnico a receber menos de um milhão de euros de indemnização: sensivelmente um terço do que estava previsto no contrato. O gabinete coordenador técnico vai manter-se e será liderado pelo novo seleccionador.

Alternativa a Mourinho
O ex-treinador do Sporting estreou-se como seleccionador nacional em Outubro de 2010, num jogo de qualificação para o Euro 2012 frente à Dinamarca, que Portugal venceu por 3-1. Duas semanas antes tinha sido apresentado como alternativa a José Mourinho, que fora a primeira opção do então líder da FPF, Gilberto Madaíl. “Para mim é um orgulho e uma satisfação poder ser uma opção a seguir a um dos melhores treinadores do mundo”, admitiu Bento nessa altura.

Pegando numa equipa que vinha de um empate (4-4 com Chipre) e uma derrota (0-1 com a Noruega), Paulo Bento teve o mérito de recuperar a equipa e recolocá-la no rumo para a fase final, superando um play-off frente à Bósnia-Herzegovina, e a eliminação nas meias-finais diante da futura campeã Espanha não é um resultado que desmereça. O apuramento para o Mundial 2014 voltou a ser tremido, mas após novo play-off (desta vez contra a Suécia), a selecção portuguesa garantiu um lugar no Brasil.

E então, ao contrário do que seria de esperar, a inequívoca prova de confiança que se traduziu na renovação do contrato antes do Campeonato do Mundo tirou a tranquilidade a Paulo Bento. Nas sete partidas disputadas desde então (três de preparação, três da fase final do Mundial e uma do apuramento para o Euro 2016), a equipa nacional registou três vitórias, dois empates e duas derrotas – a última das quais em Aveiro, frente à Albânia.

“Não sei se [o lugar] está em causa ou não. Os lenços brancos são uma situação normal no futebol, temos de aceitá-los com naturalidade”, dizia Paulo Bento, em tom crispado, após essa partida. Ainda que com algumas variações, essa foi a disposição do técnico na maioria dos contactos com os jornalistas. A conferência de imprensa antes da estreia de Portugal no Mundial 2014 foi um exemplo disso, com Paulo Bento a mostrar claramente a irritação com o que terão sido fugas de informação durante o estágio que a selecção realizou nos EUA.

Uma postura traduzida também na relação com os jogadores. O carácter rigoroso e disciplinador, quase marcial, de Paulo Bento levou a que o técnico mostrasse absoluta inflexibilidade com o que considerou serem actos de indisciplina de vários futebolistas. Que acabaram proscritos da selecção portuguesa durante o reinado do ex-treinador do Sporting. Bosingwa, Danny e Ricardo Carvalho foram excluídos da equipa nacional e nunca mais voltaram a fazer parte das opções de Paulo Bento, que nem com pedidos públicos de desculpa se comoveu. “Não há pedidos de desculpa que resolvam. Vão ver o Euro como espectadores”, sentenciou o técnico.

No total, Paulo Bento somou 47 jogos ao leme da selecção portuguesa, com um acumulado de 26 vitórias, 12 empates e nove derrotas. A última foi a mais traumática.

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