Carlos Sá aposta em correr 217km em 24 horas sob temperaturas de 50 graus

O ultramaratonista português vai participar numa prova "muito difícil" em Badwater, nos EUA. "Uma brutalidade", aponta.

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Carlos Sá, de 39 anos, assume que o primeiro “objectivo é terminar a prova”, classificada por muitos como “a mais dura corrida do mundo”, mas admite que espera conseguir cortar a meta com um tempo a rondar as 24 horas.

“Gostava muito de conseguir correr na casa das 24 horas, mas para isso é preciso que tudo corra pelo melhor, porque qualquer pormenor pode fazer a diferença”, afirma o atleta à agência Lusa, lembrando que o recorde da prova, que vai juntar 97 participantes, é actualmente de 22h52m.

O ultramaratonista português lembra que este tipo de prova “é muito difícil de preparar, tanto física como mentalmente”, e acrescenta: “Para esta prova cheguei a treinar com temperaturas de 38 graus, mas mesmo assim é muito diferente dos 50 graus que encontrarei no terreno”.

Muito mais habituado a provas de altitude, o atleta, natural de Barcelos, garante que quer provar que “se pode ser bom em disciplinas diferentes”.

Carlos Sá lembra que não é “um corredor de estrada” e assume mesmo que nunca fez uma maratona de estrada, acrescentando: “Agora vou correr cinco seguidas”.

“Começamos a 86 metros abaixo do nível do mar e acabamos no ponto mais alto dos Estados Unidos [4.421 metros de altitude]. São autênticas paredes que encontramos pelo meio. Nessas subidas temos mesmo que caminhar, não conseguimos correr, e no terreno onde não há subidas vamos ter de correr a 12 ou 13km/hora, para conseguir fazer em 24 horas, uma brutalidade”, diz.

Para participar na prova, disputada em grande parte no deserto do Vale da Morte, na Califórnia, Carlos Sá teve de arranjar uma equipa de apoio porque, refere, “a organização não cede nada”.

“Levo um médico amigo para estar atento aos sinais que vou evidenciando e outros colegas para me irem dando alimentação e regando com água”, conta, acrescentando: “Vamos alugar uma carrinha, que terá várias arcas com gelo, que vão sendo reabastecidas nas povoações por onde a prova vai passando”, refere.

Além de todo o apoio logístico, Carlos Sá vai utilizar roupa especial, desenvolvida por uma marca desportiva que o patrocina, para fazer face às elevadas temperaturas que, segundo o atleta, podem ser “de 50 e muitos graus na atmosfera e mais de 70 no alcatrão”.

“É um equipamento com propriedades que consegue baixar em cerca de 10 graus a temperatura corporal com o contacto com a humidade e o suor”, explica o atleta, que admitiu ter ficado surpreendido por ter conseguido estar entre os participantes na prova, na qual só se entra por convite.

O ultramaratonista português, que se define como “um corredor de montanha que já conseguiu alguns resultados também em desertos”, admite que este desafio é o maior da carreira, mas lembra outro grande feito conseguido em Janeiro último, quando se tornou no homem mais rápido do mundo na ascensão do ponto mais alto do hemisfério Sul, o Aconcágua, na Argentina.

“Já tive este ano um enorme desafio, que foi tentar bater o recorde do mundo da mais alta montanha do continente americano, o que consegui com grande sucesso. Este desafio não estará ao mesmo nível, será superior, pelo desconhecido que acaba por ser para mim”, refere.

Carlos Sá tenciona participar, no final de Agosto, na ultramaratona do Monte Branco – que passa por França, Itália e Suíça –, mas admite que tudo depende da forma com correr a prova nos Estados Unidos, pois “o desgaste vai ser brutal e a recuperação difícil”.

A ultramaratona Badwater, que junta atletas de 22 nacionalidades, parte da baía com o mesmo nome, 86 metros abaixo do nível do mar, na região do Vale da Morte, e termina no Monte Whitney, a 4421 metros de altitude, os pontos mais baixo e mais alto do território continental dos Estados Unidos.