Carlos II, rei e seleccionador
Se não fosse o seu rei, que morreu há 60 anos em Portugal, a Roménia não teria participado no primeiro Mundial.
A 35 dias do início do torneio, Carlos II assumiu o trono da Roménia, substituindo o seu filho Miguel, que tinha apenas nove anos. De regresso ao país depois de ter renunciado ao trono devido a um romance com a filha de um farmacêutico, Carlos tomou o futebol como uma prioridade e envolveu-se pessoalmente na participação da sua selecção no primeiro Mundial. Para além de ter movido influências junto da organização para que a Roménia participasse, foi ele que seleccionou os 19 jogadores que iriam compor a selecção.
Alguns dos melhores futebolistas romenos, como recordava o site da FIFA esta semana, trabalhavam numa empresa petrolífera inglesa, que não dava autorização aos seus funcionários para se ausentarem durante tanto tempo. E se eles quisessem ir à mesma, a empresa não lhes garantia emprego. O rei entrou, de novo, em campo. Falou com o dono da empresa, disse que a mandava encerrar se os jogadores não fossem autorizados. Esta, e outras empresas, acederam ao “pedido” real. E os jogadores receberam o salário por inteiro durante os três meses de ausência.
A bordo do SS Conte Verde, três das quatro selecções europeias (a Jugoslávia foi a excepção) foram para o Uruguai, sendo que na mesma embarcação seguia Jules Rimet, presidente da FIFA, com o troféu na mala. O Conte Verde ainda parou no Rio de Janeiro para dar boleia à selecção brasileira e seguiu depois para Montevideu.
A Roménia começou bem, triunfando por 3-1 sobre o Peru, num jogo que a FIFA classifica como aquele que menos assistência teve em Mundiais (300 espectadores). Depois, perdeu por 4-0 com o anfitrião Uruguai, que viria a vencer o torneio.
Ainda durante o reinado de Carlos II (que esteve no trono entre 1930 e 1940), a Roménia participou nos dois Mundiais seguintes (1934 e 1938), sem ter ganho qualquer jogo.
Carlos II abandonou o trono em 1940, substituído pelo filho Miguel, e partiu para o exílio. Não mais voltou ao seu país e acabou por se fixar em Portugal, no Estoril, onde viria a morrer a 4 de Abril de 1953, fez anteontem 60 anos. Os seus restos mortais estiveram durante 50 anos no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa, e só em 2003 foram transladados para a catedral da família real romena, em Bucareste.
* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos