Demasiado tenros para os “tubarões”

A selecção portuguesa levou a solidariedade demasiado à letra e perdeu (0-2) com Cabo Verde. Sete jogadores fizeram a estreia absoluta com a camisola da equipa nacional

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A selecção de Cabo Verde festeja o seu segundo golo frente a Portugal PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP

Depois de uma preciosa vitória sobre a Sérvia, no apuramento para o Euro 2016, Portugal tinha agendado um encontro particular com Cabo Verde, que já tinha defrontado por duas vezes na preparação para torneios internacionais: em 2006, antes do Mundial, venceu por 4-1 em Évora; quatro anos depois, antes de viajar para a África do Sul, a equipa nacional empatou (0-0) na Covilhã. Desta vez a história foi diferente e Cabo Verde, que no início deste ano, na Taça das Nações Africanas, ficou pelo caminho logo na fase de grupos (contou por empates os três jogos disputados, com Tunísia, República Democrática do Congo e Zâmbia) obteve a primeira vitória de sempre sobre Portugal.

O jogo tinha carácter solidário, já que as receitas da partida revertiam integralmente a favor das vítimas da erupção vulcânica na ilha do Fogo: o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, entregou ao Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, um cheque no valor de 50 mil euros no final da primeira parte. Mas, nos primeiros 45 minutos, a equipa de Fernando Santos tinha levado a solidariedade ao extremo. Faltou intensidade, faltaram ideias e faltou capacidade de levar perigo à baliza defendida por Vozinha.

A selecção portuguesa foi uma presa chocantemente fácil para os “tubarões azuis”, que agradeceram as facilidades concedidas. Odair Fortes e Gegé construíram uma vantagem confortável, que Portugal nunca conseguiu contrariar.
Com Fernando Santos de volta ao banco de suplentes — tinha cumprido frente à Sérvia o primeiro de dois jogos de castigo —, a equipa nacional entrou em campo com quatro estreantes: Anthony Lopes, Paulo Oliveira, André Pinto e Bernardo Silva vestiram pela primeira vez a camisola da selecção portuguesa. O médio do Mónaco mostrou os pormenores de classe que se lhe conhecem, mas quem mais deu nas vistas foram os cabo-verdianos. A equipa de Rui Águas abordou cada lance como se fosse o último da partida, entusiasmando os adeptos na mesma proporção que o futebol lento e sem sentido praticado por Portugal desalentava as bancadas.

Que foram tímidas é o mínimo que pode dizer-se das ameaças feitas pela equipa nacional à baliza adversária. Vieirinha (15’), Bernardo Silva (19’ e 22’) e Adrien Silva (40’) testaram Vozinha, mas o guarda-redes cabo-verdiano correspondeu sempre. O mesmo não se pode dizer de Anthony Lopes, mal batido no lance que deu vantagem a Cabo Verde: o guardião do Lyon estava adiantado e viu a bola passar-lhe por cima, num remate que não pareceu inteiramente intencional por parte de Odair Fortes. E se as bancadas já estavam galvanizadas com o 0-1, ficaram ao rubro mesmo antes do intervalo. Num livre muito perto da área portuguesa, Gegé surgiu a ampliar o marcador.

A primeira parte da selecção portuguesa tinha sido tão má que as coisas só podiam melhorar no segundo tempo. Só que não foi isso o que aconteceu. A equipa de Fernando Santos só episodicamente conseguiu chegar à área adversária com perigo, e as jogadas atacantes eram rapidamente desfeitas pela defesa cabo-verdiana ou pela inépcia portuguesa: Hugo Almeida, sem oposição, mergulhou para um cabeceamento que saiu incrivelmente ao lado (50’).

Cabo Verde estava confortável a gerir a vantagem e ficou-o ainda mais com a expulsão de André Pinto, que derrubou Heldon quando este partia isolado para a baliza (60’). Nada mais havia a retirar da partida, de um e do outro lado. Para Portugal foi um teste chumbado. Para os “tubarões azuis” foi uma festa que se prolongou pela noite, pelas ruas em torno do estádio.

 

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