Benfica TV rendeu 17 milhões de euros “limpos”

Encaixe em 2013-14 é inferior à última oferta da Olivedesportos, que atingia os 22,2 milhões de euros por ano.

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 “A BTV [Benfica TV], no seu novo modelo e, ainda, único em todo o mundo, gerou no presente exercício receitas brutas de 28,1 milhões de euros. Resultados que esperávamos, mas de que muitos desconfiavam. Resultados que superaram a oferta feita pela anterior empresa titular dos nossos direitos televisivos.”, diz Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, logo na mensagem inicial no relatório e contas da época 2013-14, enviado na sexta-feira à noite à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Só que para fazer a comparação com o anterior modelo, é necessário igualmente perceber quais são as despesas da Benfica TV, que tem “70 colaboradores” (como é referido no relatório) e adquiriu direitos de transmissão de jogos de campeonatos estrangeiros, como o inglês e o grego. Em nenhum capítulo do relatório, é especificado o balanço líquido da Benfica TV, mas a dado ponto é referido que “os gastos operacionais consolidados [da SAD do Benfica] aproximaram-se dos 109,2 milhões de euros, sendo a sua variação essencialmente explicada pela inclusão da Benfica TV no perímetro de consolidação da Benfica SAD, que gerou um impacto de 11 milhões de euros, e pelo aumento dos gastos com o pessoal.”

Há ainda referência a um acréscimo de 5,2 milhões de euros nos fornecimentos e serviços de terceiros, explicada pela Benfica TV e pela organização da final da Liga dos Campeões,  mas, ao que o PÚBLICO apurou, os valores destes serviços já estão englobados nos gastos operacionais consolidados.

Podemos, então, subtrair os 11 milhões de euros de custos da Benfica TV aos 28,1 milhões de euros de receitas brutas do canal para chegar a uma receita líquida de 17,1 milhões de euros. Em 2012, a Olivedesportos tinha oferecido 111 milhões por cinco temporadas, o que dava uma média de 22,2 milhões por época, mais cinco milhões do que a receita agora gerada pelo canal do Benfica. Nesta comparação, não é possível saber qual seria o valor líquido da oferta da Olivedesportos, mas, por outro lado, há igualmente receitas e despesas da Benfica TV que não estão relacionadas com a transmissão dos jogos caseiros da equipa profissional de futebol. Refira-se ainda que a Benfica TV já superou os 300 mil assinantes, segundo o relatório enviado à CMVM.

Outro dado relevante do relatório e contas do Benfica é a subida considerável dos gastos com pessoal. A SAD benfiquista gastou 62,2 milhões de euros (ME) em salários e prémios, mais 25,3% do que na época anterior (50,4 ME). Estes valores fizeram o clube da Luz descolar dos rivais, já que o FC Porto reduziu ligeiramente os gastos com pessoal (de 50,8 para 44,1 ME) e o Sporting fez um corte brutal (de 41,7 para os 25M).

“Os gastos com o pessoal registaram um crescimento de 25,3%, o qual é essencialmente justificado pelo investimento efectuado no plantel de futebol, que implicou um aumento da massa salarial, e pela distribuição de prémios de objectivos e desempenho por atletas, equipa técnica e estrutura profissional de futebol”, justifica-se no relatório da SAD — destes 63,2 milhões, 43,9M dizem respeito a remunerações fixas e dez milhões a prémios. O administrador financeiro da SAD, Soares de Oliveira, recebeu remunerações de 299 mil euros e Rui Costa 230 mil.

Como já era conhecido, desde que o Benfica apresentou o resumo das contas no mês passado, a SAD “encarnada” obteve um lucro de 14,2 milhões de euros na época 2013-14, um valor bem melhor do que os 368 mil euros de resultados positivos da SAD do Sporting e que contrasta com o elevado prejuízo da SAD do FC Porto no mesmo período: 38,4 milhões.

Tal como já era público no primeiro resumo das contas, o Benfica obteve na época passada resultados operacionais (sem vendas de jogadores) de 105 milhões de euros (ficando pela primeira vez acima dos 100 milhões), bateu um recorde de transferências de jogadores (encaixe de 75,6 milhões de euros) e o passivo subiu 2% para 449,1 milhões. Os capitais próprios melhoraram, mas são negativos (8,4 milhões), tal como acontece nos rivais - o FC Porto tem capitais próprios negativos de 28,5M e o Sporting de 118M negativos, estando as três sociedades na chamada situação de falência técnica.

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