A ansiedade durou 57 minutos mas depois soltou-se o grito que estava preso na garganta
A festa começou ao final da tarde, na Luz, e estendeu-se pela noite dentro. Capitão Luisão foi buscar Luís Filipe Vieira e Jorge Jesus antes de erguer o troféu de campeão. Lima foi o herói no jogo frente ao Olhanense e fechou as contas do título.
Era uma palavra que estava presa na garganta dos benfiquistas há pelo menos um ano. Se há lições a retirar do final de época dantesco que o Benfica viveu em 2012-13 são as virtudes da paciência e da prudência. Evitar a soberba e avançar com passos seguros rumo às metas estabelecidas. Jorge Jesus mostrou que aprendeu e, na presente temporada, vincou desde o início a prioridade do campeonato sobre todas as outras competições. Na lista de tarefas dos “encarnados”, esse objectivo está cumprido. É hora de olhar para os restantes itens da lista — e na quinta-feira há já a primeira mão da meia-final da Liga Europa, frente à Juventus.
O jogo contra o Olhanense não era uma mera formalidade e a ansiedade da equipa e adeptos durou quase uma hora. Mas já lá vamos. A noite chegou com festa em pleno relvado da Luz e com o capitão Luisão a segurar o troféu de campeão nacional. Mas o internacional brasileiro só o ergueu contra o céu depois de ir ao túnel de acesso aos balneários buscar o presidente Luís Filipe Vieira e o treinador Jorge Jesus — ambos cumpriam castigo. Antes, os jogadores tinham sido chamados um a um para um palco montado no centro do estádio, incluindo o lesionado Sílvio, de muletas, e Salvio, de braço esquerdo ao peito, após o ter partido no jogo e acabado a sua temporada prematuramente. Uma das maiores ovações foi para Lima, claro. Mas o nome de Cardozo também esteve entre os recebidos com muito entusiasmo pelas bancadas, em sinal de reconciliação: o paraguaio desentendeu-se com Jorge Jesus na final da Taça de Portugal da época passada, esteve afastado da equipa, mas voltou a fazer parte da “família”.
O 33.º título de campeão do Benfica ficou fechado num domingo de Páscoa. Um sucesso que permitiu ao treinador Jorge Jesus uma espécie de ressurreição. Ficamo-nos por aqui nas imagens de tema religioso para descrever a conquista do campeonato pelos “encarnados”. Mas vale a pena notar que o Olhanense recusou o papel de cordeiro pascal: com perspectivas muito complicadas no campeonato, os algarvios foram à Luz com o objectivo de fazer pela vida. O treinador Giuseppe Galderisi tinha dito que o Olhanense não ia só para aplaudir o campeão e tinha deixado no ar que podia ser uma Páscoa “inesquecível”. Só que não há milagres: os rubro-negros, segunda pior defesa da I Liga, sofreram a 17.ª derrota em 28 jornadas e continuam na cauda da classificação.
Durante quase uma hora, os algarvios resistiram estoicamente às investidas do Benfica. A equipa de Jorge Jesus entrou com um ritmo aceleradíssimo, criando — e desperdiçando — oportunidades umas a seguir às outras. O remate de Gaitán foi interceptado, Rodrigo atrapalhou-se na altura de rematar e Lima atirou duas vezes por cima. Tudo isto nos primeiros dez minutos. O assédio à baliza de Belec era intenso, mas faltava eficácia. A ansiedade, traiçoeira, ia crescendo.
A Luz só se libertou da pressão aos 57’. Lima foi o homem que colocou um ponto final nesse estado de espírito, afastou os fantasmas da temporada passada e desencadeou os festejos. Na recarga a um remate de Gaitán, após uma primeira defesa de Belec, o brasileiro inaugurou o marcador. Passados três minutos, voltou à carga: lançado em velocidade, foi galgando metros até entrar na área e rematou por entre as pernas de Belec. 2-0 e assunto arrumado.
A equipa respirava melhor e as bancadas também, numa enorme festa e, no final, o Benfica segurou o título com as duas mãos, um ano depois de tê-lo deixado fugir por entre os dedos.