Apareceu um OVNI e foi-se o futebol

Quando estava no auge, o Operário chegou a fazer tremer os gigantes do futebol brasileiro. Mas entrou em decadência após um acontecimento sobrenatural

O que era aquilo? Magnéttico

Visitar o Estádio Pedro Pedrossian – tratado carinhosamente por “Morenão” – era uma dor de cabeça. No auge do Operário havia engarrafamentos para chegar ao recinto e quem quisesse arranjar um lugar bom tinha de chegar pelo menos duas horas antes. O auge foi em 1977, quando o “galo” (que tinha na equipa Manga, guarda-redes da “canarinha” no jogo contra Portugal no Mundial 1966) foi terceiro classificado – só caiu nas meias-finais do campeonato, perante o São Paulo, que viria a sagrar-se campeão. Mas pelo caminho derrubou “gigantes” como Palmeiras e Fluminense.

Esses eram os bons tempos do Operário. Depois de um certo dia 6 de Março de 1982 tudo mudou. Campo Grande foi palco de um acontecimento sobrenatural e o “galo” nunca mais foi o mesmo.

O Operário recebeu o Vasco da Gama, num jogo que terminou com vitória do “galo” por 2-0. Mas a vitória do emblema sul-mato-grossense foi completamente ofuscada pelo avistamento no “Morenão” de um objecto voador não identificado (OVNI). A história entrou para o folclore do futebol local: ninguém lhe ficou indiferente e não falta quem relacione o declínio acelerado que o Operário viveu desde então com a suposta visita interplanetária.

“Passou a fazer parte da história do ‘Morenão’. Quando falamos do disco voador lembramo-nos dos bons tempos do nosso futebol. A gente até brinca, que aquele aparelho levou o nosso futebol embora. O futebol acabou, o aparelho levou-o”, admitiu Alberto Pontes Filho, técnico administrativo do “Morenão”, no documentário O que era aquilo?, realizado por Paulo Higa, André Patroni e Kleomar Carneiro.

Os depoimentos são variados. “Eu vi. Está na minha mente até hoje, uma bola de luz muito rápida. Não dá para definir cor nem forma. Apenas uma luz muito rápida. Foi embora, como se fosse viajar: ‘Já demos um tchau aqui, vamos embora’”, lembrou o jornalista Ramão Cabreira. “Foi uma coisa inexplicável. Hoje em dia alguém teria filmado, com um telemóvel ou uma câmara. Mas antes não havia nada para filmar. Só estava uma câmara no ‘Morenão’ e não podia gastar porque era de fita e [depois] não dava para gravar o jogo”, acrescentou Amarildo, defesa do Operário em 1982.

O acontecimento foi notícia nos jornais. “OVNI’s no céu de Campo Grande” era o título do Correio do Estado no dia 8 de Março de 1982: “Um disco voador! Essa frase foi exclamada por muita gente em Campo Grande, sábado, por volta das 20h30, quando um facho de luz – oscilando nas cores azul, verde limão, vermelho e amarelo – cortou parte do céu escuro da capital. A forma do objecto é a grande dúvida; até agora, ninguém conseguiu apurar. Não se pode dizer que fosse um ‘disco’, porque não se pôde observar nenhuma forma arredondada. Há os que garantem que se tratava de algo como uma garrafa, outros preferem acreditar que o OVNI tinha a forma de um charuto”.

Mais alguns excertos: “Os menos informados passaram por uma sensação de medo ante o inexplicável do fenómeno. Nunca se viu, pelo menos aqui, qualquer coisa no céu com tamanha intensidade de luz e voando a tal velocidade. Foi muito rápido. E não se precisa muito para ver, o OVNI era perfeitamente visível, até mesmo para um míope ou um daltónico”. E concluía o Correio do Estado: “Existe uma séria timidez em falar sobre o assunto, porque a maioria das pessoas teme passar pelo ridículo de ser chamado de louco ou alucinado”.

Alucinação ou não, o facto é que o futebol de Mato Grosso do Sul entrou em decadência a partir daí. O estado chegou a ter duas equipas no principal escalão (para além do Operário, também o rival Comercial), mas desde a década de 1980 que os clubes sul-mato-grossenses não chegam ao topo.

Quanto ao Operário, vive hoje moribundo. Em 2011 perdeu pontos pela utilização irregular de um jogador, mas como recorreu ao Ministério Público também foi excluído das provas oficiais durante dois anos. O clube perdeu as instalações, os troféus e a propriedade da marca devido às dívidas acumuladas. Enquanto o Operário tenta reerguer-se, um grupo de adeptos fundou em 2010 o Novoperário – com o lema “Paixão antiga, uma nova ideia”, tem por objectivo resgatar a “força e tradição do futebol de Mato Grosso do Sul”. Salvo qualquer visita indesejada, claro.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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