Imagens hostis nos corredores dos balneários de Alvalade

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Um dos corredores de acesso aos balneários reservados aos adversários MIGUEL MANSO

Sporting redecorou corredor das equipas visitantes com fotos de adeptos em poses agressivas, alguns com símbolos e gestos conotados com extrema-direita

Adeptos das claques em poses agressivas, desafiando os seguranças. Outros de cara tapada e com tochas na mão. Outro numa pose que sugere uma saudação fascista. Outro ainda com uma tatuagem com a cruz de ferro, um símbolo que, não sendo exclusivo do nazismo, está muito associado a movimentos da extrema-direita. Foram estas as imagens que o Sporting colocou, nesta época, no corredor que dá acesso aos balneários da equipa visitante, no Estádio de Alvalade - um caminho que tem de ser percorrido pelos jogadores visitantes para se equiparem e, depois, no caminho de ida e regresso do relvado.

O PÚBLICO teve acesso a fotos tiradas num jogo desta época na zona reservada aos intervenientes no encontro e pôde depois comprovar a veracidade delas, numa visita turística ao estádio, onde foi possível ver uma parte desse corredor, já que a outra estava vedada às visitas. Na parte aberta do corredor estava, por exemplo, o painel em que um adepto aparece de braço esticado (tal como nas saudações fascistas), enquanto as imagens com a tatuagem da cruz de ferro não se encontravam neste corredor: estão na área não visitada ou foram entretanto removidas?

Esta e outras perguntas - de quem foi a ideia? Toda a direcção conhece e concorda com a colocação destas imagens? Porquê o uso destas fotos? - ficaram sem resposta por parte do Sporting, cujo director de comunicação, Pedro Sousa, apenas disse que "não há reacção nenhuma" por parte do clube. De qualquer forma, sabe-se que o vice-presidente responsável pelo património e infra-estruturas, Paulo Pereira Cristóvão, assumiu em entrevista ao jornal do clube, em Agosto, que houve obras no estádio: "Aqui mandamos nós... somos o Sporting", disse, na altura.

As imagens agora visíveis no corredor da equipa visitante contrastam com as que lá estavam e com as que ilustram o acesso aos balneários do árbitro e da equipa da casa. Nesse caso, as paredes estão decoradas, por exemplo, com fotos de futebolistas da casa, em jogo ou a festejarem conquistas, à semelhança do que acontece nos estádios de outros clubes, como confirmam alguns agentes desportivos, que preferem não ser identificados.

O PÚBLICO pediu um comentário sobre estas fotos polémicas ao presidente do Conselho para a Ética e Segurança no Desporto (CESD) e a primeira reacção foi de perplexidade. "Tenho dificuldade em acreditar que as fotografias que me enviou tenham sido colocadas nos corredores de acesso aos balneários onde se equipam os clubes visitantes no estádio do Sporting. O clube sempre pautou a sua conduta pela hospitalidade e confraternização com equipas adversárias, não confundindo a saudável rivalidade desportiva com guerras entre facções de adeptos", reagiu Vicente Moura, igualmente líder do Comité Olímpico e adepto do Sporting.

"Confirmando-se, as fotografias não honram o Sporting Clube de Portugal, não fazem justiça aos adeptos que não se consideram arruaceiros. Estou convicto de que a direcção do SCP, na senda das tradições do clube, as mande retirar", acrescentou Vicente Moura, falando em "formas de pressão dispensáveis".

Salomé Marivoet, professora de Sociologia na Universidade de Coimbra e especialista em violência no desporto, confessou-se igualmente perplexa: "As imagens falam por si. O painel de fotos veicula uma imagem dura de adeptos, seguramente uma minoria dos adeptos dos Sporting, expressando uma hostilidade violenta para com as equipas visitantes, que contrasta com a mensagem escrita de "bem-vindos"."

"Trata-se de um painel numa zona de acesso reservado e, por isso, certamente sujeita a uma decisão de órgãos directivos. Não posso deixar de concluir, como socióloga, que esta enfatiza a sublimação de uma subcultura de adeptos hostil e violenta por parte dos responsáveis do clube comprometidos com tal escolha, denotando conivência e exaltação da mesma. O caso assume ainda maior gravidade dada a selecção de fotos veicular símbolos nacionalistas de extrema-direita", acrescenta esta professora, que também integra o CESD, um órgão que depende da Secretaria de Estado do Desporto e que regula as matérias relacionadas com segurança e violência no desporto.

O PÚBLICO contactou vários jogadores e treinadores que passaram por Alvalade nesta época, mas nenhum quis fazer comentários sobre o assunto. Veja mais imagens em desporto.publico.pt/

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