Portugal vence e mostra que é mesmo candidato
Dois golos e três bolas nos postes provaram a força da selecção portuguesa, que dominou a Turquia durante os 90 minutos de jogo
Era impossível querer um começo de Europeu melhor. Portugal venceu o seu jogo de estreia na competição, fez uma boa exibição e ganhou sem deixar a mais pequena dúvida de que é mesmo candidato a algo. Um golo de Pepe e outro de Raul Meireles fixaram o resultado final, numa partida em que a selecção portuguesa foi sempre melhor do que a da Turquia.
Portugal entrou a mandar. Já que lhe colaram o estatuto de favorito, nada melhor do que assumi-lo o mais depressa possível. E aqueles que eram os previsíveis 11 jogadores que Luiz Felipe Scolari iria escolher para começar o jogo subiram ao relvado do estádio de Genebra determinados a provar que a condição de candidato não vai descolar tão cedo da sua pele.
Frente à Turquia, a selecção portuguesa teve o mérito de confirmar as melhores expectativas e afastar os fantasmas mais assustadores. Afinal, Portugal tem mesmo uma grande equipa, tem mesmo um ataque temível, tem mesmo um futebol capaz de incomodar qualquer adversário. E Scolari foi capaz de tirar da cabeça da maior parte dos jogadores a tentação de se esquecerem da equipa, abusando dos individualismos.
Num estádio com um pouco mais de turcos do que de portugueses, Cristiano Ronaldo foi capaz de jogar para a equipa, Deco disse à equipa que pode contar com ele, Ricardo Carvalho mostrou que a equipa continua a ter um patrão, Moutinho provou à equipa que não há quem corra mais do que ele... Todos confirmaram o que melhor se esperava deles (apenas Paulo Ferreira destoou um pouco).
A melhor estreia de sempre
Mas naquela que foi a melhor estreia de sempre de Scolari em grandes competições internacionais, o herói improvável foi Pepe. O defesa-central que se naturalizou português há cerca de um ano obrigou todos a tirarem os olhos de Cristiano Ronaldo e a fixarem nele o olhar. Porque Portugal só ficou em vantagem quando Pepe inventou uma jogada e teve a coragem de a finalizar. E se na primeira parte foi apanhado em fora-de-jogo, no segundo tempo ninguém o impediu de festejar o golo batendo com a mão no peito, afagando as quinas.
Antes, Portugal já tinha feito tudo para marcar. Um remate de Bosingwa que roçou o poste e um livre de Cristiano Ronaldo em cheio no poste mostraram que os postes seriam os adversários mais difíceis de bater, já que a Turquia foi sempre um opositor submisso, que nunca colocou Portugal verdadeiramente à prova.
Com Deco a comandar as operações, Moutinho mostrou-se um operacional eficaz e Petit um soldado incansável. Com o território controlado, Portugal apontou os canhões ao meio-campo adversário e, durante a primeira parte, fez o que quis da Turquia, chegando ao intervalo com 63 por cento de posse de bola e sete remates à baliza adversária, embora apenas dois tivessem ido à baliza de Volkan.
A máquina de guerra funcionava, só não tinha a pontaria afinada. Nuno Gomes (esforçado) voltou a fazer soar o metal, mas foi preciso vir um agente infiltrado da retaguarda para furar as linhas defensivas e marcar.
Quaresma ficou no banco
Se alguém tivesse perguntado aos portugueses antes do Europeu qual seria o jogador português que primeiro faria o gosto ao pé na prova, certamente haveria poucos totalistas, mas arriscar em Raul Meireles como o autor do segundo (o da confirmação) deveria dar direito a ganhar um jackpot.
Mas foi mesmo o médio do FC Porto a confirmar a vitória, já no período de compensação e depois de Portugal ter primeiro acertado pela terceira vez no metal da baliza turca (Nuno Gomes cabeceou à barra) e a seguir perdido um pouco a atitude, deixando que a Turquia ameaçasse a baliza de Ricardo.
Se até ontem a selecção portuguesa era respeitada, a partir de agora passou a ser temida. Portugal mostrou que tem poder de fogo e arrisca-se a afundar até os maiores porta-aviões que lhe aparecerem no caminho. Venceu por 2-0, mas deixou indícios de que tem ainda mais pólvora para gastar, sobretudo se tivermos em conta que Cristiano Ronaldo não chegou a fazer estragos.
A verdade é que a selecção de Scolari nem precisou de recorrer a todas as armas secretas: basta ver que o seleccionador nacional deixou Ricardo Quaresma no banco do primeiro ao último minuto. Agora que passou a ser um alvo a abater, Portugal só precisa de mostrar que aquilo que fez ontem não foi só fogo-de-vista.