Vargas Llosa recebe honoris causa enquanto passa férias em Lisboa

Nuno Júdice propôs a atribuição deste título ao autor que escreve ficção, ensaio e tem um intervenção política activa.

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A ideia de propor o autor de A Tia Júlia e o Escrevedor (1977, editado pela Dom Quixote) ou O Herói Discreto (2013, pela Quetzal) para este título surgiu no início deste ano, o que mostra que todo o processo de decisão foi bastante rápido. Nessa altura, a Casa da América Latina (CAL) e a Fundação Saramago souberam que o escritor estaria de férias em Lisboa por volta de Julho, conta Nuno Júdice ao PÚBLICO. “Ele tem uma vida naturalmente muito ocupada e é raro vir cá. Era uma oportunidade. Quando me disseram, propus logo ao reitor [António Rendas], que se mostrou muito interessado.”

Mas a passagem por Portugal não é naturalmente a principal razão para se atribuir um honoris causa. “Mario Vargas Llosa é uma das grandes figuras da literatura mundial e um expoente da literatura latino-americana. Faz parte dessa vaga de escritores [da América hispânica] dos anos 1960 que renovaram um género que parecia esgotado: o romance”, diz o poeta e professor do departamento de Línguas, Culturas e Literaturas da Faculdade de Ciências Socias e Humanas (FCSH).

A decisão de atribuir um doutoramento honoris causa cabe à Reitoria da Universidade, depois de ouvir um conselho científico constituído por docentes da instituição. Depois de a universidade ter já distinguido desta forma vencedores do prémio Nobel da Economia, da Química, da Física e da Paz, é a primeira vez que distingue um prémio Nobel da Literatura. Dos 83 doutores honoris causa da UNL, apenas seis são da área da literatura, o que para Nuno Júdice mostra como esta é uma menção “extraordinária e selectiva”, que tem que ser dada a uma pessoa com relevância intelectual e cultural.

“Na sua ficção, pessoalmente, interessam-me as pequenas histórias que cria, as suas personagens que não são propriamente heróis, mas são do quotidiano”, diz Júdice sobre as imagens que Llosa dá daqueles que “nascem numa classe pobre e que vivem a luta pela sobrevivência”. As suas personagens acabam por ser protagonistas “inesperados, como os polícias ou os militares”, explica sobre a obra do também dramaturgo, poeta e crítico literário peruano.

Além da ficção de Mario Vargas Llosa, o professor na área da Literatura Portuguesa e Francesa destaca o seu contributo como ensaísta com importantes textos sobre Flaubert, Victor Hugo ou literatura sul-americana. Na política, as suas intervenções são sempre “claras”: “Tem tomado posição sobre os grandes conflitos em todo o mundo. Não só na América do Sul, mas também no Médio Oriente, por exemplo”, diz o professor da FCSH sobre este escritor, que não tem qualquer ligação à UNL e com quem Júdice ainda não teve oportunidade de falar. “É uma honra de qualquer maneira. Ele com certeza recebe muitos destes convites e aceitou este”.

Na cerimónia na Reitoria do Campus de Campolide vão discursar Nuno Júdice, o reitor da UNL António Rendas e Vargas Llosa. O autor foi já distinguido com este título por outras universidades europeias e americanas. O último foi em Dezembro de 2011, pela Universidade APEC (Acção para a Educação e Cultura) na República Dominicana.

No sábado, o PÚBLICO vai publicar uma entrevista com o escritor Mario Vargas Llosa.

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