Um salto aos anos 1980 para mostrar a mulher de Luís Buchinho
O criador português Luís Buchinho, a celebrar 25 anos de carreira, apresentou em Paris uma colecção feminina influenciada pela música das bandas do início da década de 1980.
Passado um quarto de século sobre a criação da marca, a mulher Luís Buchinho é diferente. “A maior diferença é o grau de execução”, explica ao PÚBLICO o criador, no final do desfile, na sexta-feira ao início da noite, na Cidade das Luzes. “Houve uma evolução muito grande, uma procura para ir mais longe nos materiais, na construção das peças, na diversidade, na montagem do desfile. Não me considero um designer irreverente, mas considero-me o género de designer que, estação após estação, apresenta uma surpresa”, diz.
Na estação anterior, Buchinho escolheu a Biblioteca Nacional de França para o desfile Outono/Inverno. Agora, a sua Primavera/Verão foi celebrada no Conservatório Nacional de Artes e Ofícios: na passerelle estão femmes fatales, o lado mais masculino produzido pelas primeiras boysband e uma moda mais excêntrica de grupos musicais como os Culture Club ou Thompson Twins. E as manequins não andaram numa fila direita, como habitualmente.
Em Club, o nome da sua colecção para a estação quente, as modelos obedeceram a uma coreografia. “Hoje já não há coreografias ensaiadas com duas, três, quatro modelos em cima da passerelle a fazer cruzamentos, como havia nos anos 1980; agora é tudo muito rápido”, critica o criador. Para “mudar o espectáculo”, e “refrescá-lo”, alterou o esquema e as modelos entraram em pares ou em trio, com criações idênticas ou de cores diferentes, mas sempre com a mesma inspiração: os videoclips e “a atmosfera pop britânica do início dos anos 1980” e recortes de revistas alemãs como a Bravo ou a Pop Rocky.
Nessa década, os ombros volumosos imperavam e tocava The chauffeur, dos Duran Duran, na rádio e nas discotecas. Para 2016, Buchinho quis mostrar os ombros – uma maneira “mais interessante e mais moderna” de pegar nesta silhueta icónica. Há fendas nas mangas dos casacos, nas mangas das blusas, dos macacos e também fendas laterais ou centrais em calças, o que faz com que silhuetas rígidas, mais associadas ao sexo masculino, se tornem fluidas, mais femininas.
As suas propostas começaram a preto-e-branco, a fazer lembrar o início do videoclip da música dos Duran Duran – com as modelos a usarem chapéus inspirados no do motorista do vídeo. Depois, a cor vai despontando (com bordô, azul céu e amarelo) e há sobreposições de materiais, que conferem diferentes texturas, em macacões, saias, casacos curtos ou vestidos tubo. É uma mistura propositada, explica Buchinho: “É como se houvesse muitas personagens, todas dentro do mesmo sítio, mas todas elas unidas pelo mesmo espírito.”
A colecção apresentada na sexta-feira já esteve na feira internacional Edit, em Nova Iorque, e está até ao dia 5 de Outubro na Tranoï Femme, em Paris. “Aquilo que faço é muito vestível. É muito universal em termos de linguagem”, acredita Luís Buchinho. “São peças que não precisam de alterações nenhumas, vão directamente para venda, embora haja algumas preferências pela cor. O mercado europeu gosta mais do preto; na Arábia é preciso mandar descer as saias”, acrescenta o criador, para quem a mostra de Paris continua a ser “das mais importantes”.
Também na capital francesa, Diogo Miranda – a apresentar-se aqui pela segunda vez e com igual presença no showroom Tranoï Femme – mostrou, este sábado, a sua colecção feminina para a próxima Primavera, no Espaço Pierre Cardin. Calças e vestidos amplos, casacos com linhas rectas e decotes profundos em rosa, salmão, preto ou azul-marinho fazem parte das propostas do criador que se inspirou no trabalho do arquitecto mexicano Luis Barragan.
A 37.ª edição do Portugal Fashion começa no próximo dia 21, em Lisboa, e continua no Porto, até dia 24.
O PÚBLICO viajou a convite do Portugal Fashion