Teatro Nacional de São João com novos horários, novos preços e novos bares em 2015
Nuno Carinhas mantém-se como director artístico até ao final do ano, embora subsistam dúvidas sobre a duração do mandato renovado em Outubro.
Além dos novos horários, que serão testados ao longo do primeiro trimestre de 2015, o TNSJ vai introduzir também novos preços para os espectáculos do Teatro Carlos Alberto (TeCA) e do Mosteiro de São Bento da Vitória (que descem de 12 para dez euros), assim como visitas guiadas multilíngues ao edifício principal do teatro, recentemente restaurado, e a legendagem "da maioria" das produções da casa. O objectivo é responder à actual dinâmica turística da cidade, expandindo o público potencial das três salas tuteladas pelo TNSJ em pleno centro histórico (mais de 80 mil espectadores em 2014, números ainda não definitivos) e afirmando a vocação internacional da instituição, na linha da Fundação de Serralves e da Casa da Música.
É missão não só para 2015, como para todo o próximo triénio, agora que o Conselho de Administração viu finalmente renovado o seu mandato – em situação mais precária fica o director artístico, Nuno Carinhas, que se mantém no cargo "pelo menos até ao final do ano", uma vez que subsistem dúvidas sobre a retroactividade do despacho que em Outubro renovou, já bastante fora do prazo, o seu mandato por mais três anos. Já esta sexta-feira, em nota enviada à redacção do PÚBLICO, a Secretaria de Estado da Cultura esclarecia que o director artístico do TNSJ "foi reconduzido por decisão do Governo para um novo mandato de três anos", válido para o triénio 2013-2015.
Ainda assim, foi Nuno Carinhas que, com a sua habitual discrição, apresentou a programação para os próximos três meses: cinco estreias absolutas, entre as quais a primeira encenação mundial do texto O Fim das Possibilidades, do francês Jean-Pierre Sarrazac, co-criação do próprio Carinhas e de Fernando Mora Ramos que ocupará o palco do TNSJ de 13 a 27 de Março.
Mas a primeira estreia do ano no São João será La Vida es Sonho, ataque de João Garcia Miguel à obra-prima de Calderón de la Barca (9 a 18 de Janeiro) que promete virar o clássico de pernas para o ar, investindo nele a matéria fundamental do trabalho do encenador português, "o corpo do actor e o corpo do espectador": "Mais uma vez, tratar-se-á do teatro interrogando-se a si próprio no imediato e no presente-futuro que se segue", explicou João Garcia Miguel.
Micaela Cardoso, que terá em Zerlina, de Hermann Broch, o seu primeiro monólogo e a sua primeira experiência como encenadora (Mosteiro de São Bento da Vitória, 12 a 22 de Fevereiro), As Boas Raparigas, que retomam o trabalho continuado com Rogério de Carvalho agora em cima de um texto de Jean-Luc Lagarce, Music-Hall (TeCA, 13 de Fevereiro a 1 de Março), e Fernando Giestas, que interroga a Guerra Colonial e o fosso geracional entre pais e filhos em O que é que o pai não te contou da guerra?, também com encenação de Rogério de Carvalho (20 a 29 de Março, TeCA), são os outros grandes protagonistas da temporada.
Mas pelo TNSJ passarão também espectáculos já estreados como Eis o Homem, criação de Marta Freitas a partir de Nietzsche e dos inputs dos actores José Eduardo Silva e Adolfo Luxúria Canibal (TeCA, 8 a 17 de Janeiro), o inquérito de Dinarte Branco e Nuno Costa Santos às vidas interrompidas dos cidadãos norte-americanos e canadianos bruscamente repatriados para os Açores, I don't belong here (21 a 25 de Janeiro, TeCA), a Gata em Telhado de Zinco Quente anti-cinematográfica dos Artistas Unidos (TNSJ, 5 a 22 de Fevereiro), o novo circo da Erva Daninha, com Nove's Fora (Mosteiro de São Bento da Vitória, 25 a 28 de Março) e o díptico infantil Poemas para Bocas Pequenas e O que é uma coisa é? (27 e 28 de Janeiro e 25 e 26 de Fevereiro, respectivamente).
Duas conferências "mitológicas" de José Maria Vieira Mendes (a primeira, a 4 de Março, sobre o paradigma do teatro pós-dramático, e a segunda, uma semana depois, sobre o mito do público), uma série de estreias fora de portas que a seu tempo passarão pelo TNSJ (o regresso de John Romão a Pier Paolo Pasolini, com Pocilga, um Tchékhov revisitado por Martim Pedroso e um novo texto de Jacinto Lucas Pires, Meio Corpo, saído directamente para as mãos de Ricardo Pais) e um ciclo de Leituras no Mosteiro integralmente dedicado à obra dramática de Rainer Werner Fassbinder completam a agenda do S. João para os primeiros três meses de 2015.
Nos intervalos, os espectadores ficam entregues aos mini-hambúgueres de leitão e às crackers de caviar de beringela de Rui Paula. 2015 será o ano que acabará definitivamente com o dilema "jantar fora ou ir ao teatro": por cinco euros, assegurou o novo concessionário dos bares do TNSJ, será possível sair do S. João de barriga cheia.
Notícia actualizada às 15h17 acrescentando esclarecimento da Secretaria de Estado da Cultura