Teatro Municipal do Porto reabre dia 23 para fazer uma "cidade feliz"

Do 83.º aniversário do Rivoli ao Foco Brasil, do clubbing no sub-palco ao condomínio aberto do Campo Alegre, Tiago Guedes apresentou o programa para o primeiro trimestre de 2015.

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A apresentação da nova programação do Teatro Municipal do Porto fez-se já no renovado palco do Grande Auditório do Rivoli FERNANDO VELUDO/NFACTOS
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Paulo Cunha e Silva, o vereador da Cultura, e Rui Moreira, o presidente da Câmara Municipal do Porto, ouviram Tiago Guedes apresentar o seu alinhamento para o primeiro trimestre de 2015 FERNANDO VELUDO/NFACTOS
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As obras de rebaixamento do palco do Rivoli custaram 60 mil euros FERNANDO VELUDO/NFACTOS
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A agenda do Teatro Municipal do Porto terá uma periodicidade trimestral FERNANDO VELUDO/NFACTOS

A operação, que manteve um dos dois pólos do teatro, o Rivoli, fechado durante uma substancial parte do último mês, repôs finalmente o palco no nível em que se encontrava antes de o concessionário Filipe La Féria o ter unilateralmente remodelado para o adaptar às exigências dos musicais que ali apresentou entre 2006 e 2010 – e está agora pronto para receber a festa de 83.º aniversário do teatro, que se comemora já no dia 24 com um alinhamento que em parte aponta as várias direcções que o TMP quer percorrer nesta sua segunda vida, do teatro para os mais pequenos (Sopa Nuvem, pela Companhia Caótica) à dança internacional (Tarab, pela Compagnie 7273), da arquitectura (com a exposição A Medida do Ocidente, de Álvaro Siza e Giovanni Chiaramonte) à literatura, que passará também a ter sessões regulares no foyer do terceiro andar (um teste, este transplante das já inamovíveis Quintas de Leitura para o centro da cidade).

Entre os dois pólos do novo TMP – o Rivoli, com uma programação internacional estruturada em torno da dança e da performance, como anunciava já o programa preliminar O Rivoli Já Dança!, e o Campo Alegre, condomínio aberto a artistas e companhias da cidade que ali trabalham em residências de longa ou curta duração – se jogará a identidade do teatro, que Paulo Cunha e Silva quer “aberto à cidade e ao mundo”: “Será um teatro urbi et orbi, um teatro que se articula com os outros palcos da cidade mas que percebe que o principal palco é a própria cidade.”

A partir de dia 23, o Rivoli receberá então novas criações de jovens coreógrafos portugueses, mas também estreias nacionais de criadores estrangeiros como os franceses Laurence Yadi e Nicolas Cantillon (Tarab), o brasileiro Marcelo Evelin (Matadouro), o sul-africano Gregory Maqoma (Free, uma co-produção com a Companhia Instável), ou a dupla britânica Jonathan Burrows & Matteo Fargion (Both Sitting Duet + Body Not Fit For Purpose e Cheap Lecture + The Cow Piece), uma parceria com o Núcleo de Experimentação Coreográfica (This Place) e um ciclo comissariado por Vera Mota, Performance…. Again#1.

No cruzamento entre as artes performativas e o cinema, o Rivoli dedica-se, de 10 a 15 de Março, a olhar para o Brasil, com um programa que inclui, além do Matadouro de Marcelo Evelin (que estará em residência no Porto a preparar o seu espectáculo de 2016), performances de Denise Stutz e Priscilla Davanzo e um compacto de cinema com curadoria de Ricardo Alves Jr. Outro objecto em movimento neste teatro: as marionetas, que têm direito a um fim-de-semana especial (20 a 22 de Março) com a estreia de Notallwhowanderarelost, de Benjamin Verdonck, e espectáculos do Teatro de Marionetas do Porto e do Teatro de Ferro.

Se a dança é assumidamente o eixo da programação do Rivoli, o teatro estará activamente em curso no Campo Alegre, onde João Sousa Cardoso apresenta vários módulos do seu Teatro Expandido!, deambulando pelos vários espaços do equipamento e convidando o público a segui-lo (nestes primeiros três meses, A Ronda, de Arthur Schnitlzer, ocupa o subpalco, O Cerejal, de Tchékhov, a plateia, e Baal, de Brecht, a teia); na Baixa, o Teatro Experimental do Porto e o Cão Danado estreiam as suas novas peças (Casa Vaga: Uma Coboiada e Medeia, respectivamente). Também por ali, mas ostensivamente debaixo do palco agora intervencionado, o ciclo Understage funcionará como um clube mensal dedicado a novos projectos musicais da cidade (primeiros três inquilinos: Sturqen, White Haus e Sonoscopia).

Entretanto, a Medeia Filmes mantém as suas sessões regulares no Campo Alegre, mas as terças-feiras serão dias de cinema no Pequeno Auditório do Rivoli, com ciclos programados pela Cinemathèque de la Danse de Paris (História(s) da Dança), pela associação Porto/Post/Doc (Documentários Contemporâneos ) e pela Casa da Animação (Terças Animadas), a que se juntam as antestreias da Medeia, Ver Primeiro. Lá em cima, pelo foyer do terceiro andar, passará a ser habitual assistir a lançamentos de livros.

Para garantir que as extraordinárias taxas de ocupação do ciclo O Rivoli Já Dança! (que se situaram entre os 90 e os 100% apesar da descida drástica dos “convites institucionais”, como frisou Rui Moreira) se repetem no primeiro ano de funcionamento normal do TMP, Tiago Guedes criou um “serviço educativo mais musculado”, o Paralelo – Programa de Aproximação às Artes Performativas que actuará em várias frentes (visitas guiadas, conferências, encontros, workshops, babysitting performativo), e uma política que embora não repita o “carácter de brinde” dos passes anteriores permite descontos substanciais na compra simultânea de sete ou dez espectáculos e preços especiais para os portadores do Cartão de Amigo Rivoli Alegre.

“Não nos esquecemos da promessa de reabrir o Rivoli e o Porto também não estava esquecido. Esta programação corresponde ao nosso desejo de tornar a cidade desejável não só para os turistas como para os novos residentes, porque acreditamos que entre o município e o munícipe não deve existir só uma relação de obra pública e assistencialismo e que a cultura não é um luxo nem uma despesa”, argumentou o presidente da Câmara.

Daí que a seguir a este primeiro trimestre que custou 177 mil euros à autarquia venha uma programação onde cabem a dança seminal de Raimund Hoghe e a revista à portuguesa do Teatro Praga, as metáforas impossíveis de Philippe Quesne e um festival, o FITEI, que também já esteve quase morto no deserto, e o Porto aqui tão perto. Ainda Rui Moreira: “É um programa que faz a felicidade dos cidadãos – parecia improvável e esotérico, mas as pessoas regressaram a esta sala.”

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