Prémio Mies van der Rohe para um auditório "brilhante e transparente"
Prémio de arquitectura da União Europeia atribuído ao Auditório da Filarmónica de Szczecin, na Polónia, de Fabrizio Barozzi e Alberto Veiga.
O projecto polaco da dupla Barozzi/Veiga é composto por um auditório para 1000 espectadores, uma sala para música de câmara com capacidade para 200 pessoas, um espaço multifunções para exposições e conferências e um enorme foyer. Construído no local onde existiu uma grande sala de concertos, destruída durante a Segunda Guerra Mundial, o novo complexo fica próximo do centro histórico desta cidade portuária, contexto que não poderia deixar de o influenciar.
Explicam os autores do projecto, citados pelo ArchDaily, site especializado em arquitectura, que o edifício não pode dissociar-se do ambiente urbano que o acolhe, marcado pela verticalidade das torres residenciais, pela "volumetria pesada" das estruturas neoclássicas e pela monumentalidade das igrejas neogóticas, com os seus telhados de inclinação muito acentuada que, mesmo para o observador menos atento, parecem encontrar no novo auditório um eco evidente se não mesmo uma citação. Barozzi e Veiga definem-no como "um objecto brilhante, transparente e aprumado".
Diz em comunicado o júri desta edição do Mies van der Rohe, presidido pelo arquitecto italiano Cino Zucchi, que o Auditório da Filarmónica de Szczecin "encontrou uma estratégia formal e espacial convincente numa cidade que luta por um futuro melhor" num cenário de transformação acelerado em termos económicos e sociais, "conferindo dignidade à vida urbana e, ao mesmo tempo, acrescentando à sua identidade histórica específica um 'monumento' contemporâneo".
O site da fundação com o nome do icónico arquitecto alemão que morreu em 1969, descreve a obra iniciada em 2011 e concluída no ano passado como um "volume sintético, mas complexo", cujas diversas funcionalidades se interligam através de um "passeio contínuo", uma espécie de trajecto público único que atravessa todos os andares do edifício. Definido como um "elemento leve", cuja fachada de vidro, iluminada a partir do interior, produz diferentes perspectivas, tem na sala principal, com um tecto e paredes dourados, o seu elemento de "maior expressividade".
A edição deste ano atribuiu ainda o prémio revelação (Arquitecturas Emergentes) à Casa Luz, em Cilleros, na província de Cáceres, um projecto do atelier catalão Arquitectura-G, desenvolvido a partir de uma velha casa de paredes de pedra e de adobe e organizado em torno de um novo pátio, criando "espaços de simplicidade e clareza".
Os que ficaram pelo caminho
Na corrida ao Mies van der Rohe de 2015 estavam inicialmente 19 projectos portugueses que não chegaram à shortlist final daquela que é a distinção mais relevante para a arquitectura europeia. Da primeira das listas divulgadas pela fundação com sede em Barcelona – a que incluía quase duas dezenas de arquitectos e ateliers portugueses – constavam 420 projectos de toda a Europa, com a predominância de países como Espanha, isolada no topo com 35 propostas, Alemanha (27) e França (25).
Essa primeira lista foi depois reduzida a 40 edifícios, incluindo o Centro de Artes Contemporâneas de Ribeira Grande, nos Açores, projecto de co-autoria entre o atelier de Francisco Vieira de Campos e Cristina Guedes (Menos É Mais Arquitectos) e o atelier de João Mendes Ribeiro, e o Centro de Remo de Alta Competição em Vila Nova de Foz Côa, do arquitecto Álvaro Fernandes Andrade (SpacialAR-TE). De entre estes 40 foram escolhidos os cinco projectos da Alemanha, Dinamarca, Itália, Polónia e Reino Unido que até ao final desta manhã de sexta-feira disputavam o prémio.
No ano passado, o vencedor foi o edifício Harpa, uma sala de concertos e um centro de conferências em Reiquejavique, na Islândia, criado pelos dinamarqueses Henning Larsen Architects e Olafur Eliasson (artista plástico). Da lista dos finalistas fez parte o atelier português Aires Mateus, com um edifício construído em Alcácer do Sal para acolher um lar de idosos.
Lançado em 1987 e atribuído de dois em dois anos numa parceria da Fundação Mies van der Rohe com a Comissão Europeia – que dividem os custos do galardão principal, de 60 mil euros, e os adicionais 20 mil euros afectos às Arquitecturas Emergentes –, este prémio teve como primeiro vencedor Álvaro Siza, em 1988, com o projecto do Banco Borges & Irmão, em Vila do Conde. Na galáxia de arquitectos que já foram distinguidos estão ainda o holandês Rem Koolhaas (Embaixada da Holanda em Berlim), o inglês Norman Foster (Aeroporto de Stansted, na zona metropolitana de Londres), o francês Dominique Perrault (Biblioteca Nacional de França, em Paris) e o espanhol Rafael Moneo (Auditório Kursaal, em San Sebastián).
Notícia actualizada às 14h20