Porta dos Fundos e o "génio" Ricardo Araújo Pereira à conversa num sábado à noite

Festival Porta dos Fundos, em Lisboa, chegou ao fim com a promessa de o colectivo voltar a Portugal.

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A última noite do festival Porta dos Fundos, em Lisboa, com Ricardo Araújo Pereira NUNO FERREIRA SANTOS

“Para que fique claro, isto aqui hoje é só gente a falar”, começou por dizer Ricardo Araújo Pereira quando subiu ao palco e foi recebido com uma ovação. O humorista português não quer que ninguém ali esteja ao engano, à espera de ver no palco mais do que uma conversa. Não houve representação, é certo, mas foram ditas muitas piadas e passaram alguns dos sketches da Porta dos Fundos, cujo fenómeno já não acontece apenas no YouTube, onde têm o seu canal – para o ano, no Brasil, chegam ao canal por cabo Fox.

É exactamente por isso que “apenas um bate-papo”, como disse Ricardo Araújo Pereira, é o suficiente para esgotar o último dia do festival Porta dos Fundos. Tornaram-se no canal de humor em língua portuguesa que mais rapidamente cresceu no YouTube e semanalmente os seus vídeos são vistos e partilhados por milhões de pessoas. O seu sucesso já não é apenas online e cada um dos membros do Porta dos Fundos tornou-se já numa celebridade, como se pôde comprovar nos dois dias de festival no Cinema São Jorge. Não houve espectáculos, apenas sessões de conversa e visionamento de alguns vídeos – o suficiente para agradar aos fãs portugueses que querem ouvir o que os brasileiros lhes têm a dizer. Além de ainda terem a oportunidade de lhes poderem perguntar o que quiserem.

“É uma loucura, o Fábio Porchat já cá tinha estado várias vezes e já nos tinha dito que em Portugal todos nos adoravam mas ter participado nestas conversas e perceber o vosso interesse em falar convosco foi inacreditável”, disse a actriz Júlia Rebelo, já no fim da sessão de sábado à noite, depois de uma conversa de quase duas horas com Ricardo Araújo Pereira - considerado por Gregório Duvivier, um dos mentores do Porta dos Fundos, como “um génio”. Ricardo Araújo Pereira é, aliás, uma referência no trabalho deste colectivo brasileiro.

“Quando vi pela primeira vez o Gato Fedorento percebi que ali estava algo de novo, aquilo era inédito, simplesmente genial”, diz Duvivier, explicando que é o facto de não se escolher o óbvio para fazer piadas que torna os projectos especiais. Foi o caso dos Gato Fedorento, é o caso agora do Porta dos Fundos. “Temos de esquecer as velhas piadas, nem podemos olhar de maneira chata para a sociedade, o que procuramos é dar um ponto de vista diferente das coisas”, explica o brasileiro, ao mesmo tempo que Fábio Porchat, uma das caras mais conhecidas do Porta dos Fundos e que abriu o festival na quarta-feira com o seu espectáculo Fora do Normal, no Campo Pequeno, destaca a importância dos textos. “Os textos são o que de mais importante temos no Porta, tratamos o texto quase de forma matemática e um dos nossos segredos é que deitamos muita coisa fora, não há um sentimento de posse nos argumentos”, conta Porchat, para quem “a perfeição no humor é fazer rir e pensar”.

É como diz Ricardo Araújo Pereira: “Fazer rir ou pensar não é mutuamente exclusivo. Faço as duas coisas ao mesmo tempo, até para saber do que me rio”. No São Jorge, o Festival Porta dos Fundos acabou com a promessa do regresso do grupo de humoristas a Portugal.

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