Percussionista senegalense Doudou N’diaye Rose morre aos 87 anos
Considerado o maior intérprete do tambor tradicional do seu país, o sabar, Doudou N’diaye Rose colaborou com músicos como Dizzy Gillespie, Miles Davis ou Peter Gabriel. Chamavam-lhe "o matemático dos ritmos" e "o grande mestre dos tambores".
Segundo o jornal online senegalense Dakaractu, Doudou N’diaye Rose, que colaborou com músicos como Dizzy Gillespie, Miles Davis, Peter Gabriel ou The Rolling Stones, morreu de problemas cardíacos, depois de ter dado entrada numa clínica de Dakar e de ter sido transportado de urgência para o hospital Arstide Le Dantec, ao qual já não terá chegado vivo.
Na véspera da sua morte, Doudou N’diaye Rose, compositor do hino nacional do Senegal, tinha assistido ao funeral de outro grande percussionista do seu país, Vieux Sing Faye.
Especializado no sabar, o tambor tradicional do Senegal, geralmente tocado com uma só mão e uma baqueta, Doudou N’diaye Rose inventou centenas de novos ritmos, e mesmo aguns novos instrumentos. Em 1991, um artigo do jornal francês Le Monde chamava-lhe "o matemático dos ritmos, o grande mestre dos tambores, capaz de dirigir ao mesmo tempo cem percussionistas a tocar em vários ritmos".
De origem wolof, a etnia maioritária do Senegal, e nascido em 1928, em Dakar, numa família de griots - uma espécie de casta hereditária responsável pela conservação e transmissão oral da tradição -, Doudou N’diaye Rose começou a interessar-se ainda criança pelas percussões tradicionais africanas. Precisou de anos de persistência para convencer a família a deixá-lo seguir a sua vocação, mas teve também a sorte de encontrar aquele que era então o melhor tambor-mor do Senegal, El hadj Mada Seck, que seria o seu mestre durante vários anos.
Ao mesmo tempo que frequenta a escola, trabalha como soldador, e vai ao cinema sempre que pode, Doudou N’diaye Rose treina-se nas múltiplas variantes do sabar, verdadeiro instrumento nacional do país, presente em festas familiares e na Igreja, nos comícios políticos e em qualquer banda senegalesa que se preze.
Em 1959, sobre ao palco com a célebre Josephine Baker, que repara no jovem percussionista e terá então profetizado que Doudou N’diaye Rose seria "um dos grandes". Foi o primeiro grande impulso na sua carreira. No ano seguinte festeja o primeiro aniversário da independência do seu país tocando perante o presidente-poeta Léopold Sédar Senghor no estádio de Dakar.
Além de ser considerado um dos melhor intérprete de sempre do sabar, Doudou N’diaye Rose foi também um notável maestro de percussionistas, chegando a dirigir centenas de músicos.
Ajudado pela circunstância de ter gerado uma extensa prole que, segundo diversas fontes, se situará entre os 38 e os 42 filhos, Doudou N’diaye Rose pôde ainda fundar, recorrendo apenas à sua descendência e aos que se juntaram à família pelo casamento, os Drummers of West Africa, um dos mais respeitados grupos de percussão do mundo, com dezenas de músicos, e Les Rosettes, um grupo exclusivamente feminino de cerca de vinte percussionistas, todas filhas, netas ou noras do músico. No Senegal do início dos anos 80, uma banda só de mulheres foi uma verdadeira pedrada no charco. A juntar a estes dois grupos, Doudou N’diaye Rose criou ainda um terceiro, Roseaux, destinado a crianças entre os 4 e os 12 anos.
Entre os seus filhos e discípulos contam-se alguns dos mais prestigiados percussionistas do Senegal, como Ali N'Diaye Rose, Mamadou N'Diaye Rose ou El Hadji N'Diaye Rose, todos eles com intensa carreira internacional.
Além das já referidas colaborações com músicos de jazz e rock, o músico senegalês gravou um disco com o cantor e compositor de música celta Alan Stivell, e participou em 1988 na banda sonora do filme A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese.