Palácio Valflores é um dos 14 monumentos em maior perigo na Europa
Grande exemplar de arquitectura residencial renascentista em Portugal, o palácio de Santa Iria da Azóia está na longlist de 2016 do programa Os 7 mais ameaçados da Europa Nostra.
A Europa Nostra, principal organização europeia do património, e o Instituto do Banco Europeu de Investimento divulgaram esta quinta-feira a lista dos 14 monumentos candidatos ao programa Os 7 mais ameaçados de 2016. Esta lista prévia, da qual sairão os sete finalistas, inclui sítios arqueológicos, edifícios públicos, residenciais e religiosos, uma ponte, um aeroporto e a Lagoa de Veneza, contemplando 14 países analisados por um painel de peritos. O Centro Nacional de Cultura (CNC), parceiro português da Europa Nostra, indicou para a lista o Palácio de Valflores.
Localizado em Santa Iria da Azóia, no concelho de Loures, e construído entre 1532 e 1558, o Palácio Valflores é um dos melhores exemplos de arquitectura residencial renascentista em Portugal, mas, apesar da sua classificação como Imóvel de Interesse Público, está em avançado estado de degradação e corre risco de colapso.
Teresa Tamen, directora-geral de actividades do CNC, disse ao PÚBLICO que o programa Os 7 mais ameaçados não prevê qualquer financiamento directo à recuperação, mas ajuda a arranjar soluções e a obter fundos, nomeadamente fazendo mediação entre tutelas e encontrando programas internacionais de apoio adequados a cada caso. Nesse sentido, “tem sido um programa de sucesso” a nível europeu, diz esta responsável.
Erguido por ordem de Jorge de Barros, chefe do entreposto português na Flandres, o Palácio Valflores integra-se numa propriedade com 4,5 hectares. Tem dois torreões ameados e debruça-se sobre um vale com vista privilegiada para o estuário do Tejo. A sua fachada principal incluía uma loggia com dez arcos abatidos sobre colunelos toscanos, que, em parte, já ruiu. “A intervenção prioritária deve concentrar-se na estabilização e consolidação do edifício, a fim de travar a sua deterioração”, diz o CNC em comunicado. Essa intervenção básica está orçada pela câmara de Loures, proprietária do imóvel, em entre 400 mil e 500 mil euros, disse ainda ao PÚBLICO Teresa Tamen. Mas o concelho tem um plano mais ambicioso para este espaço, que inclui a reabilitação dos jardins e a criação de um centro cultural, com uma escola de artes e ofícios e um pequeno museu. Segundo Teresa Tamen, esse segundo orçamento está ainda em estudo existindo por enquanto apenas “estimativas grosseiras” que Loures não divulgará por enquanto.
A lista final dos sete sítios a apoiar por este prestigiado programa europeu de conservação e restauro será divulgada em Veneza a 16 de Março de 2016.
Para além do Palácio de Valflores, a longlist dos 14 monumentos e sítios de 2016 inclui o Sítio Arqueológico de Ererouyk e Aldeia de Ani Pemza (Arménia), o Palácio da Justiça em Bruxelas (Bélgica), a Fortaleza Patarei em Talin (Estónia), o Areoporto Helsinki-Malmi (Finlândia), a Ponte Colbert em Diepe, Normandia (França), o Castelo em Divitz, Mecklenburg-Vorpommern (Alemanha), os Campos de Chios (Grécia), a Lagoa de Veneza (Itália), o Castelo Rijswiijk, Província de Gelderland (Países Baixos), o Y- block, Complexo do Governo, Oslo (Noruega), o Convento de Santo António de Pádua, Extremadura (Espanha), a Cidade Antiga de Hasankeyf e Arredores (Turquia), a Casa Mavisbank, perto de Edimburgo (Escócia).
De entre estes 14 monumentos e sítios “alguns estão em perigo devido a negligência ou planeamento desadequado, outros devido à falta de recursos ou capacidade técnica” local diz a Europa Nostra. Todos foram seleccionados “tendo em conta o seu notável valor patrimonial e cultural” e a vontade “de vários actores públicos e privados e o empenho das comunidades locais em resgatar esses monumentos”.
Nas duas últimas edições deste programa Portugal foi contemplado com ajuda à recuperação do Convento de Jesus em Setúbal (2013) e dos Carrilhões do Convento de Mafra (2014).