O monstro mexicano, aqui e agora
A afirmação de uma pungente e numerosa nova geração de fotógrafos: Develar y Detonar. Fotografia en Mexico, ca. 2015.
E enviaram. E inventou-se espaço. Este episódio foi contado por entre gargalhadas da plateia por Gerardo Montiel Klint durante a apresentação, na última semana, de uma das exposições mais estimulantes e desafiadoras da programação deste ano do festival. Klint, um dos três fundadores daquela plataforma de criatividade ligada à imagem fotográfica mexicana, explicou então que o excesso de imagens era uma das marcas que queria impor às salas, onde quase tudo o que era superfície livre foi preenchido, do chão ao tecto. A ideia é mimetizar a overdose do que se vê no quotidiano (mexicano e não só), com a imagem a povoar a maior parte dos espaços públicos e privados e a alastrar, como uma trepadeira, para onde menos se espera.
O excesso visual em Develar y Detonar… (com grandes impressões coladas, mosaicos e projecções vídeo em formatos generosos) é mais do que um recurso expositivo – é a afirmação de uma pungente e numerosa nova geração de fotógrafos que se mostra atenta e disponível para problematizar em imagem a complexa teia de transformações por que passa o México de hoje. “Foi difícil espalhar o festival por toda a América Latina, para que não víssemos apenas o México, onde a cena artística ligada à fotografia continua fulgurante”, gracejou no mesmo dia a directora do PHotoEspaña, María García Yelo.
Klint apresentou Develar y Detonar… como “um percurso iniciático” pelo panorama contemporâneo da fotografia mexicana, um posicionamento que tenta pensar o presente e colocar de parte todo o tipo de lastros que possam impedir a circulação da imagem produzida naquele território. “Cada sociedade precisa do seu próprio monstro. Creio que o monstro do México é o que se passa aqui e agora. Muitos dos autores que reunimos são muito jovens, mas não quisemos fazer um corte geracional, nem um corte cronológico. Tentámos fazer um corte por pontos de contacto.” Nesse diálogo cabem géneros distintos e aparentemente antagónicos. Para além de apresentarem propostas mais atípicas (como a “paisagem psicológica” ou a “imagem imoral”), os curadores da Hydra sentiram-se estimulados a misturar a chamada “fotografia dura” (de imprensa) com as que jogam mais do lado da conceptualização, a “fotografia artística”. “Porque é que estes dois universos têm de estar separados? Para nós, é tudo imagem e os dois géneros estão cada vez mais misturados. Muitos autores partem de uma postura conceptual, mas aquilo que fotografam é muito real. É interessante ver como a realidade e a tentativa de ficcionar vão dar, afinal, a caminhos muito parecidos.”
Develar y detonar. Fotografía en México, ca. 2015
CentroCentro Cibeles. Até 30/08