Morreu o editor, escritor e jornalista francês François Maspero

Intelectual marcou a vida cultural e política parisiense nas décadas de 1960-70.

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François Maspero AFP

François Maspero, comprometido politicamente com a Esquerda, foi proprietário de uma livraria em Paris, que nas décadas de 1960 e 1970 foi um espaço da cultura de contestação, afirma a agência AFP. Foi também jornalista, traduziu vários escritores espanhóis, e em 1959 fundou a sua própria editora, La Découverte.

Comentando o desaparecimento de Maspero num comuninado enviado à comunicação social francesa, a ministra da Cultura do país lamentou a perda de "uma grande figura da literatura comprometida, um intelectual imenso". "Com ele, a edição de livros políticos perde um dos seus símbolos", disse Fleur Pellerin.

Neto do egiptólogo Gaston Maspero e filho do sinólogo Henri Maspero, François nasceu em Paris em 19 de Janeiro de 1932. A II Grande Guerra marcou a sua juventude: o pai morreu, em 1944, no campo de concentração nazi de Buchenwald, e o irmão mais velho foi morto em França pelas tropas alemãs.

Em 1955, sem qualquer grau académico, François tornou-se livreiro no Quartier Latin, em Paris, na época um bairro muito frequentado por artistas e intelectuais. Quatro anos depois, criou as edições Maspero, publicando textos sobre a guerra na Argélia, de contestação ao regime soviético de Estaline, sobre o subdesenvolvimento e o neocolonialismo.

Publicaram nesta chancela autores como Louis Althusser, Jean-Pierre Vernant, Pierre Vidal-Naquet, Yves Lacoste, Yannis Ritsos, Tahar Ben Jelloun e Nazim Hikmet. Alguns títulos foram proibidos e Maspero foi ganhando destaque na vida intelectual francesa, apesar de muitos problemas legais, nomeadamente pesadas multas, da supressão dos direitos civis e de ter sido preso.

Em 1974, François Maspero foi forçado a vender a sua livraria, mas a editora foi preservada através da mobilização de autores e leitores. Em 1982, acabou por vender a editora a François Gèze.

Depois de um acidente de motorizada e uma tentativa de suicídio, Maspero começa a escrever, tendo publicado 15 títulos, romances e sobretudo guias de viagem. Le Sourire du Chat, Balkans-Transit Un Voyage au Long Cours são alguns dos títulos de maior sucesso.

Paralelamente, realizou reportagens para a Radio France e para o jornal Le Monde, e traduziu autores como John Reed, Francesco Biamonti, Alvaro Mutis, Arturo Pérez-Reverte, Carlos Ruiz Zafón e Joseph Conrad.