Morreu José Wilker, a estrela das telenovelas

Tinha 66 anos e terá morrido de enfarte.

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José Wilker fez carreira na televisão e no cinema DR
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Como Lorde Cigano em "Bye Bye Brasil" (1979)
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Como Sónia Braga, "Em Dona Flor e os seus Dois Maridos"
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Em "Roque Santeiro"
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Em "Amor à Vida", onde José Wilker é o médico Herbert
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Fez de Zeca Diabo em "O Bem-Amado"

Ao jornal brasileiro A Folha de São Paulo, o agente do actor, Cláudio Rangel, confirmou a notícia: "Percebemos hoje de manhã, graças a Deus não sofreu nada". José Wilker terá morrido esta noite durante o sono.

"José Wilker presenteou-nos com interpretações que se tornaram ícones do cinema e da televisão", escreveu a presidente brasileira, Dilma Rousseff, na sua conta do Twitter.

Muito conhecido do público português, podemos ver o actor actualmente na novela que está a passar na SIC, Amor à Vida, onde José Wilker é o médico Herbert. Esta é assim a última novela de Wilker, que além de se ter destacado na televisão, fez também carreira no cinema.

José Wilker tinha também uma carreira reconhecida no teatro, tendo no ano passado encenado a adaptação ao palco do filme Rain Man, Encontro de Irmãos. Foi, aliás, no teatro que o actor começou a sua carreira na representação, no Movimento Popular de Cultura do Partido Comunista. A estreia profissional aconteceu em 1962 no elenco da peça Julgamento em Novo Sol.

Além disso, Wilker realizou duas novelas (Louco Amor, 1983, e Transas e Caretas,1984), um filme (Cinderela, 1986) e ainda foi um dos realizadores, entre 1996 e 2002, da conhecida série Sai de Baixo.

Nascido a 20 de Agosto de 1947 em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará, José Wilker mudou-se com a família, ainda em criança, para o Recife. Já adulto, e decidido a seguir a carreira de actor, foi viver para o Rio de Janeiro em 1963, onde estudou com o cineasta sueco Arne Sucksdorff. Dois anos depois, Wilker consegue um papel, apesar do seu nome não aparecer nos créditos, no filme A Falecida, de Leon Hirszman (1937-1987), um dos expoentes do cinema novo brasileiro. Este foi também o primeiro filme da actriz Fernanda Montenegro.

Nos anos seguintes, o actor consegue entrar em mais alguns filmes mas o primeiro grande reconhecimento que recebeu foi em 1970, quando lhe foi atribuído o Prémio Molière de Melhor Actor pelo seu trabalho na peça O Arquitecto e o Imperador da Assíria.

A sua carreira disparou então e depressa é convidado pelo escritor e argumentista Dias Gomes (1922-1999) para entrar na novela Bandeira 2, de 1971. José Wilker chegava assim à Globo e à televisão, onde se manteve uma figura sempre activa e presente, tendo entrado nas duas versões da novela Gabriela – um marco da televisão brasileira. O actor foi o visionário Mundinho Falcão na primeira versão, de 1975, e o coronel Jesuíno no remake exibido em 2012. A frase que tantas vezes dizia nesta última versão ("Vou-lhe usar") é hoje uma das mais repetidas nas mensagens de homenagem nas redes sociais.

O seu primeiro grande papel na televisão aparecia logo depois, quando em 1976 dá vida ao protagonista de Anjo Mau, uma novela de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993).

Nesse mesmo ano, o actor brilha no cinema no papel de Valdomiro 'Vadinho' Santos Guimarães em Dona Flor e seus Dois Maridos, adaptação de Bruno Barreto da obra homónima de Jorge Amado. Até 2010, este ainda era o filme mais visto nos cinemas brasileiros, só ultrapassado depois por Tropa de Elite. Ao todo foram 49 filmes, destacando-se ainda Bye Bye Brasil (1979), de Cacá Diegues, onde protagoniza Lorde Cigano, ao lado de Betty Faria e Fábio Júnior, mostrando um Brasil em mudança através de um grupo que percorre o país a fazer espectáculos para a população brasileira pobre sem acesso à televisão.

Fez 29 novelas e outro marco da televisão, também muito recordado em Portugal, é Roque Santeiro, novela escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva e onde José Wilker foi o próprio Roque Santeiro, ao lado de Regina Duarte e Lima Duarte.

Em 1990, o actor trabalhou com João Canijo em Filha da Mãe. "A lembrança que mais me ficou, para além da relação com ele e da disponibilidade dele e da qualidade como actor que ele tinha, era o inferno que eram as filmagens cada vez que filmávamos em exteriores. Porque estava ainda a dar o Roque Santeiro e o som foi todo dobrado porque só se ouvia 'Roque! Roque! Roque!'", disse o realizador português à Lusa. O realizador lembrou ainda que sempre que se sentavam "num sítio qualquer, passados menos de cinco minutos" havia uma fila a pedir autógrafos. "Filmar no bairro do Zambujal não foi nada fácil. Disso lembro-me", contou Canijo, acrescentando que os dois mantiveram o contacto durante algum tempo e que se voltaram a encontrar em Cannes, constatando que "a relação era a mesma".

"Ele era um homem muito informado, muito culto, com um sentido de humor muito peculiar e sobretudo muito moderno", reagiu à Lusa Miguel Guilherme que contracenou com José Wilker no filme de João Canijo. "Eu já era fã dele porque desde miúdo que via o personagem que me marcou mais - o dr. Mundinho da Gabriela. Não era este coronel que ele fez na segunda versão e vi-o também no cinema. Era um actor muito peculiar, muito fora do baralho e inconformado", acrescentou.

Uma das suas mais recentes personagens, Giovanni Improtta, cujo maior desejo é subir na vida, resultou mesmo num filme. Com base na personagem da novela Senhora do Destino, de 2004, o actor realizou e protagonizou no ano passado o filme Giovanni Improtta.

O actor, que foi casado quatro vezes com as actrizes Renée de Vielmond, Mónica Torres e Guilhermina Guinle e a jornalista Cláudia Montenegro, deixa duas filhas.


 

Notícia corrigida às 19h33 Ano de nascimento é 1947 e não 1946.

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