Morreu Isao Tomita, um dos pioneiros da música electrónica
Snowflakes are Dancing, leitura da música de Debussy em sintetizador Moog tornou-o reconhecido mundo fora.
Em 2015 foi-lhe atribuído o Prémio Fundação Japão, criado para distinguir personalidades ou instituições que tenham contribuído para promover a amizade e compreensão entre o Japão e o resto do mundo. Isao Tomita agradeceu a honra. Mais tarde, comentou: “Nunca acreditei que a minha arte devia contribuir para promover o país. Mas a música, mesmo que seja uma coisa nova que recorra a sintetizadores, será sempre algo que pode ser apreciado por todos, independentemente da idade ou da proveniência. É esse o conceito por trás de todos os meus projectos”.
Assim era. Isao Tomita morreu na passada quinta-feira aos 84 anos, foi noticiado este domingo na sua página de Facebook. Foi um dos pioneiros da música electrónica, um fascínio nascido quando do contacto com o trabalho de Wendy Carlos, autora da banda-sonora de Laranja Mecânica, e de Robert Moog, o inventor do famoso sintetizador.
Em 1971, quando já contava mais de uma década de trabalho enquanto compositor para a televisão, cinema e teatro japoneses, encomendou e começou a trabalhar com um dos primeiros Moogs chegados a território japonês. No ano seguinte, editou no seu país, enquanto Electric Samurai, Switched on Rock, álbum em que gravou versões electrónicas de canções pop e rock. Em 1974, chegou aquela que se tornaria a sua obra mais célebre, Snowflakes are Dancing, em que os mesmos princípios de Switched on Rock eram aplicados à música de Claude Debussy. O álbum tornou-se um sucesso global, sendo nomeado para quatro categorias dos Grammy e subindo ao primeiro lugar da tabela da Billboard dedicada à música clássica – muitos anos depois, em 2014, Ben e Joshua Safdie resgataram-no para a banda sonora do seu filme Heavens Knows What.
Paralelamente ao trabalho que continuou a desenvolver para cinema e televisão, foi aumentando a sua discografia com álbuns no mesmo espírito de Snowflakes are Dancing, editando Firebird ou Pictures From An Exhibition, inspirados nas obras respectivas de Stravinsky e Mussorgsky. A sua música tornar-se-ia referência marcante para, por exemplo, Ryuichi Sakamoto e os seus Yellow Magic Orchestra.
Nos anos 1980 desenvolveu e apresentou mundo fora os concertos ao ar livre Sound Cloud, em que colunas de som rodeavam o público para proporcionar uma experiência imersiva. Actualmente trabalhava em Dr. Coppelius, bailado a ser protagonizado por hologramas. Em Janeiro, dizia ao The Japan Times que a sua prioridade era manter-se saudável. “Mas gostaria de adiantar Dr. Coppelius o máximo que me fosse possível, de forma a que, mesmo que algo me aconteça, outros possam terminá-lo”. O coração traiu-o antes do tempo. O legado continuará. E a obra derradeira certamente que não ficará inacabada.