Monumentos, museus e palácios rendem quase um milhão de euros por mês

Números são consequência do aumento do turismo no país.

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O Mosteiro dos Jerónimos recebeu já, este ano, quase meio milhão de pessoas Pedro Cunha

Estes números dizem respeito aos espaços culturais sob a tutela da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) e demonstram que, de Janeiro a Junho deste ano, somaram mais de 1,8 milhões de visitantes, que "renderam" 5,7 milhões de euros, mais dois milhões do que no mesmo período do ano passado.

Dois em cada três visitantes não falavam português e o subdiretor-geral do Património Cultural Samuel Rego não tem dúvidas de que o turismo cultural está a aumentar e a incrementar o turismo geral.

“De certeza que isso já acontece. O potencial de crescimento do turismo cultural é muito grande, não só pela componente artística, mas porque a marca Portugal é associada a uma carga histórica perene. E isso, conjugado com essa busca desse perfil do turista com interesses culturais, só nos faz sentir optimistas em termos de públicos”, disse o responsável à Lusa.

Actualmente a acumular funções de director interino do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Samuel Rego justifica ainda esse aumento de turismo cultural com o que chama de "singularidades" de Portugal.

“ [O Museu Monográfico de] Conímbriga, o Museu Nacional Soares dos Reis, o Convento de Cristo em Tomar, a Fortaleza de Sagres... São tudo a prova de que nós temos singularidades. Em termos de sociedade, Portugal também se comporta como tal: nós gostamos do nosso património, há um interesse generalizado em promover a Torre de Belém no exterior. As escolas, as universidades têm feito esse trabalho, há uma grande convergência e é uma alavanca para a economia nacional”, assegura.

Os números dão-lhe razão. Todos os anos tem aumentado o número de visitantes estrangeiros nos monumentos, museus e palácios, porque tem aumentado o fluxo turístico, devido a “todo um trabalho de dedicação de várias entidades”.

Há hoje, diz o subdiretor-geral, um muito melhor dispositivo de recepção dos visitantes, há melhores colecções e há “um trabalho de intervenção” em serviços de apoio a que as pessoas dão valor, como a parte da restauração.

E depois, diz, não se pode subestimar outro factor: “Institucionalmente vivemos num país que tem dedicado muito do seu empenho e esforços, não só orçamentais como promocionais, na componente cultural. Por exemplo, o fado ganhou um impacto muito grande, as rotas das catedrais também foram publicitadas internacionalmente, as direcções regionais de cultura têm trabalhado afincadamente na promoção do património. Estamos aqui a assistir a um conjunto de factores que é um país inteiro não só a zelar pelo seu património, mas a promove-lo internacionalmente”.

É por tudo isto que, das entradas no Museu do Chiado, metade são estrangeiras. Como Pierre Mauchien e Françoise Gliere, um casal francês que está pela terceira vez em Portugal, onde quer conhecer a cultura e o seu povo.

Não se consideram “turistas culturais”, Françoise prefere apelidar-se de "visitadora", mas têm na agenda o Museu Calouste Gulbenkian e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). “Não só os museus, a cultura portuguesa é muito interessante”, diz Pierre.

No Museu de Arte Antiga outro turista, também francês, Frank Corbusier, dedicou os dois dias em Portugal à cultura. “Em parte fazemos um turismo cultural, aproveitamos as viagens para visitar museus, sabemos que há bons museus em Portugal”, diz.

O director-adjunto do Museu, José Alberto Carvalho, diz à Lusa que ali os estrangeiros representam metade dos visitantes. Este ano, pela primeira vez, um pouco mais. Há, explica, “uma tendência sustentada” de aumento de número de visitantes em proporções idênticas. Dos estrangeiros, no MNAA, a maioria é britânica, seguida dos franceses.

“Este ano há um dado curioso, uma ligeira vantagem de visitantes japoneses relativamente aos que vêm de Espanha. Temos de aumentar certamente em Espanha a divulgação das exposições que são aqui feitas”, diz José Alberto Carvalho.

No Museu do Chiado pontificam os brasileiros e os europeus, com a Europa também à frente, em termos gerais (todos os monumentos, palácios e museus nacionais). Mas o Museu dos Coches já fez um catálogo em chinês, face ao aumento do turismo daquele país.

Samuel Rego defende que é preciso produzir conteúdos com os quais as pessoas se revejam, à medida dos diversos públicos. E, claro, publicitar a cultura portuguesa, objectivo do protocolo assinado com a empresa Google para a digitalização fotográfica de monumentos, palácios e museus.

Só o Museu Nacional dos Coches pode receber este ano 300 mil pessoas, mais 100 mil do que no passado, metade estrangeiras. O Mosteiro dos Jerónimos recebeu já, este ano, quase 500 mil pessoas, dois terços estrangeiras.