Kurt Cobain, um fetiche colectivo no museu

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Kurt Cobain já foi o fetiche de Gus van Sant em "Last Days" e é agora um fetiche colectivo no Seatlle Art Musem, onde desde o dia 13 decorre todo um programa de reavaliação da importância, digamos, patrimonial e iconográfica do "frontman" dos Nirvana, que se suicidou em 1994, com 27 anos. A peça central, "Kurt", é uma exposição que inclui trabalhos de Douglas Gordon, Alice Wheeler, Rodney Graham, Scott Fife e Elizabeth Peyton, entre outros artistas, mas haverá ainda debates, projecções de filmes e concertos, num programa que explorará, até 6 de Setembro, a forma como o tratamento contemporâneo dos temas da liberdade, da perda, do desejo e da alienação foi influenciado pela vida tumultuosa (e, vá, também pela obra fundadora) de Cobain.

Ao todo, são cerca de 80 peças - da pintura ao vídeo, da fotografia à instalação sonora - que sublinham a ressonância muito particular da vida e da obra desse rapaz muito loiro e muito de mal com o mundo na geração que se tornou adulta nos anos 90. Cobain continua vivo, e continua a ser a gigantesca influência no inconsciente colectivo que se tornou em 1991, o ano em que os Nirvana lançaram um álbum mítico, "Nevermind", e sobretudo um slogan mítico, "Here we are now / Entertain us". Uma influência, sublinham os curadores Michael Darling, Jon Shirley e Mary Shirley no catálogo, do tamanho das de Marilyn e de Elvis. "A maioria dos trabalhos data de 1994 e dos anos que se seguiram, sugerindo claramente que a morte de Kurt motivou estes artistas, e tantos outros, a confrontar-se com o seu legado. O que é realmente espantoso, porém, é haver trabalhos muitíssimo recentes", escreve Darling.

A par de uma selecção claramente documental, com imagens de Charles Peterson e Alice Wheeler que reconstituem a transformação de Kurt Cobain numa "star" global, "Kurt" inclui uma série de obras que evidenciam os fenómenos de identificação e de projecção associados à cultura pop, com artistas como Sam Durant ou Douglas Gordon a assumirem-se como duplos, de Cobain, e outras que exploram o potencial mitológico da narrativa do seu suicídio.

Se não fosse tão longe, estávamos lá batidos com a nossa camisa aos quadrados dos gloriosos anos 90.

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