J. K. Rowling explica como criou o pseudónimo Robert Galbraith
Depois de ter visto denunciado o seu pseudónimo Robert Galbraith, suposto autor de The Cuckoo’s Calling, J. K. Rowling, criadora da série Harry Potter, explica onde foi buscar o nome do seu alter-ego autor de policiais.
“Escolhi Robert porque é um dos meus nomes masculinos preferidos, porque Robert F. Kennedy é o meu herói, e porque, felizmente, não o tinha usado em nenhuma das personagens da série Harry Potter”, diz Rowling no site propositadamente criado para este seu alter-ego (http://www.robert-galbraith.com). Já o apelido Galbraith, acrescenta, vem de uma fantasia de infância. “Quando era criança, queria mesmo chamar-me Ella Galbraith, mas não sei porquê, nem me lembro de alguma vez ter conhecido alguém com esse nome”.
O pseudónimo de Rowling foi denunciado há duas semanas por uma amiga de um dos seus advogados, e a escritora garante que foi apanhada de surpresa por esta fuga de informação e que não se tratou de um estratagema publicitário. “Se alguém tivesse assistido aos planos labirínticos que concebi para esconder a minha identidade, ou visto a minha expressão quando percebi que o jogo tinha acabado, perceberia quão pouco quis ser descoberta”, garante Rowling.
Para assinar alguns exemplares da obra, a pedido da editora, teve de praticar vários dias até conseguir criar para Galbraith “uma assinatura diferenciada e consistente”, conta Rowling. Mas o trabalho não será desperdiçado, uma vez que já avisou que tenciona continuar a usá-la para assinar os exemplares deste e dos próximos livros do seu pseudónimo. E o próximo já está pronto, anunciou, e deverá sair em 2014.
A escritora declara-se especialmente satisfeita pelas muitas críticas positivas que o livro recebeu antes de o seu pseudónimo ter sido denunciado. Rowling (isto é, Galbaraith) chegou mesmo a receber duas ofertas para adaptações televisivas do romance, que já tinha vendido 8500 exemplares quando se soube quem era a sua verdadeira autora. Menos de metade, ainda assim, dos exemplares que o livro vendeu só na semana passada, e que o levaram ao primeiro lugar dos tops de venda britânicos, destronando o Inferno de Dan Brown.
Mas “se as vendas fossem o mais importante”, observa Rowling, teria optado por assinar o livro com o seu próprio nome e por lhe dar a máxima publicidade. A autora garante que, pelo contrário, “ansiava por voltar a iniciar uma carreira literária”, trabalhando “sem expectativas” e recebendo reacções que sabia não serem influenciadas pelo êxito que alcançara com a saga de Harry Potter. “Foi uma experiência fantástica, e só desejaria que tivesse durado um pouco mais”, diz. Rowling tinha mesmo forjado uma biografia fictícia para Galbraith, um suposto ex-membro da Polícia Militar com uma compreensível relutância em aparecer em público.
Quanto à escolha do género policial, afirma ter sido sempre uma grande apreciadora de ficção policial, e nota que vários livros de Harry Potter são, no fundo, “whodunits” (corruptela da expressão inglesa “who has done it?”, usada para designar a ficção policial de tipo dedutivo).
The Cuckoo’s Calling, título tomado de empréstimo a uma elegia da poetisa Christina Rossetti – “Why were you born when the snow was falling?/You should have come to the cuckoo’s calling” –, é protagonizado por Cormoran Strike, um ex-militar que vive em condições precárias e a quem a guerra deixou mazelas físicas (perdeu um pé na explosão de uma mina terrestre no Afeganistão) e emocionais. Na tradição criada por Conan Doyle e seguida por Agatha Christie e muitos outros, Strike tem uma ajudante, Robin, uma secretária com a ambição secreta de se tornar detective. Rowling já anunciou que pretende que ambos protagonizem uma série de vários romances. Neste primeiro caso, Strike e Robin vêem-se a braços com o aparente suicídio de uma modelo.