Hackers da Sony ameaçam estreia de filme invocando o 11 de Setembro

Ataque continuado de piratas informáticos consegue cancelar estreia e entrevistas de The Interview. Grupo promete “um grande presente de Natal”.

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"The Interview", com Seth Rogen e James Franco DR
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Rogen na estreia de Los Angeles do filme Kevork Djansezian/REUTERS
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Amy Pascal na estreia de Los Angeles no dia 11 afp

Quatro semanas passadas desde o início do ataque informático sem precedentes a uma empresa da dimensão e do sector da Sony, o “presente de Natal” dos Guardians of Peace (GOP) já começou a fazer-se sentir. A cadeia Carmike, que tem 278 salas nos EUA, já anunciou que não vai ter The Interview nos seus ecrãs na sequência de um aviso dos hackers revelado terça-feira em que evocavam os atentados de 11 de Setembro de 2001 e em que ameaçavam os espectadores do filme protagonizado por Seth Rogen e James Franco. Esta quarta-feira, a Bow Tie Cinemas, que tem 55 salas em vários estados do nordeste americano, por uma questão de "cautela.

The Interview é uma comédia escrita por Rogen e Evan Goldberg em que os dois actores interpretam um par de jornalistas a soldo da CIA para tentar assassinar o líder norte-coreano Kim Jong-un e está desde o Verão na mira dos piratas informáticos que tentam impedir a sua estreia, agendada para 25 de Dezembro nos EUA (em Portugal, o filme tem data prevista de estreia a 29 de Janeiro de 2015).

“Vamos mostrar claramente”, cita a revista Hollywood Reporter a partir do comunicado “cheio de erros ortográficos” do GOP, “[o resto do presente de Natal] na mesma hora e locais [onde] The Interview passar, incluindo a estreia, quão amarga será a sorte daqueles que procurem diversão no terror”. A mensagem, que chegou por email a algumas redacções, dizia ainda que “em breve todo o mundo verá que filme horrível a Sony Pictures Entertainment fez. O mundo estará cheio de medo. Lembrem o 11 de Setembro 2001. Recomendamos que se mantenham distantes dos sítios àquela hora. (Se a sua casa for próxima, é melhor ir-se embora.)”

A Sony, cuja co-presidente Amy Pascal foi protagonista de alguns dos resultados mais maledicentes do ataque informático (ao serem reveladas trocas de emails suas com o produtor Scott Rudin em que Angelina Jolie era retratada como “fedelha mimada”, Leonardo DiCaprio como “desprezível” e em que eram feitas piadas sobre filmes de que Obama gostaria12 anos escravo, O Mordomo, títulos sobre negros), comunicou aos exibidores que podiam cancelar as suas estreias do filme. Pascal pediu desculpas pelos comentários relativos ao Presidente e disse à Bloomberg na semana passada que a culpa não é de quem trabalha na Sony e que “continuidade, apoio e avançar é o que é importante agora”. A estreia oficial de The Interview em Nova Iorque, que contaria com a presença de Rogen e Franco na noite desta quinta-feira, foi cancelada.

O Departamento de Segurança Nacional dos EUA disse entretanto não ter informação credível “que indique um plano activo contra cinemas” mas ressalvou que ainda está a analisar a ameaça do GOP e que as autoridades de Nova Iorque e Los Angeles já reforçaram as medidas de segurança. O FBI está a acompanhar o caso desde 1 de Dezembro, não tendo ainda confirmado quaisquer informações quanto à autoria e origem deste hack.

Também na terça-feira, foram libertados mais emails, desta feita milhares de mensagens do CEO da Sony Entertainment, Michael Lynton. Deles saíram dados cruciais para a indústria e para a estratégia anual dos estúdios como as datas de estreia dos filmes da major até 2018, custos de filmes ou escolhas de casting, bem como dados financeiros sobre as parcerias da Sony com plataformas como o iTunes ou o Spotify.

Tudo isto acontece numa altura em que o drama da Sony está a passar-se para outro local: os tribunais. Dois ex-empregados da Sony interpuseram um processo legal contra o estúdio. Alegam que a empresa demorou demasiado a avisar os seus cerca de 50 mil empregados de que os seus dados pessoais tinham sido roubados e divulgados, noticia a Associated Press, além de outros dois antigos empregados que acusam a Sony de não se terem protegido mais do ataque - processos que podem custar dezenas de milhões de dólares em danos.

Ainda assim, o filme já teve uma estreia na costa oeste dos EUA – na semana passada foi mostrado em Los Angeles dia 11 sem quaisquer problemas. Na ocasião, Seth Rogen, um dos jovens rostos da comédia slacker americana de maior sucesso dos últimos anos, agradeceu a Amy Pascal por “ter os tomates” de apoiar a sua estreia. A data oficial de estreia nacional do filme mantém-se para o dia de Natal mas os compromissos mediáticos dos actores foram cancelados.

Rogen e Franco falaram sobre o assunto na terça-feira em entrevista ao New York Times, com Rogen a frisar: "Ninguém me disse oficialmente que o nosso filme, 100% [de certezas], provou ser a causa de nada disto. Não somos os primeiros a falar sobre quão louca é a Coreia do Norte, os mitos que existem e as estranhezas do regime". Em resposta à pergunta sobre se têm lido os emails saídos do ataque informático, Rogen diz: "Estou a tentar não ler. Eticamente, tenho problemas com ler emails roubados de outras pessoas". Segindo o jornal nova-iorquino Village Voice, o filme até agora não tem data de estreia nos significativos mercados da China ou do Japão, e no resto da Ásia em geral.  

Mas não é só The Interview, uma comédia de média dimensão do estúdio de Homem-Aranha que está a preparar, entre outros projectos, o novo James Bond, que está a ser afectada pelo hack. Além de filmes como Fury, protagonizado por Brad Pitt, ter ido parar à Internet e sido visto ilicitamente por mais de um milhão de vezes, há guiões como o do próximo Bond, intitulado Spectre, que se escaparam também das mãos do estúdio. O Times noticiou ainda que a produção de vários filmes do estúdio está congelada na sequência do ataque informático, apesar de a Sony negar.

Quaisquer ligações entre a Coreia do Norte ou algum grupo oriundo ou associado àquele país estão por provar, mas ainda assim, noticiam o diário britânico The Independent e a revista Hollywood Reporter, um grupo activista de direitos humanos disse que vai tentar levar cópias de The Interview até à Coreia do Norte, fazendo voar DVD presos a balões de hidrogénio sobre a fronteira. O grupo em causa, os Fighters for a Free North Korea, são encabeçados pelo filantropo Thor Halvorssen que postula que “as comédias são, seguramente, os dispositivos contra-revolucionários mais eficazes”.  

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