Festival de música de órgão do Porto regressa com dimensão internacional
Programa estende-se a 24 igrejas do Grande Porto e sai também para o espaço público. De 11 a 20 de Outubro.
Ao todo, serão 85 concertos, dentro de 24 igrejas mas também em lugares do espaço público, num calendário que, entre este domingo, com um concerto, às 16h, na Sé Catedral do Porto, e 20 de Outubro, vão pôr em funcionamento mais de duas dezenas de órgãos novos e/ou restaurados.
O pretexto para o programa deste ano é a passagem dos 30 anos sobre a inauguração do grande órgão de tubos da Sé portuense, e também dos 20 anos do primeiro concerto do grande órgão sinfónico da Igreja da Lapa.
Duas personalidades estão intimamente ligadas a estes dois momentos: o organeiro alemão Georg Jann, actualmente com 83 anos, que foi o construtor de ambos os instrumentos; e António Ferreira dos Santos, presidente do festival, mestre capela da Sé e reitor da Lapa, e que foi o principal impulsionador de um movimento de renascimento da música de órgão na região Norte do país.
Em declarações ao PÚBLICO, a apresentar o FIMO, Ferreira dos Santos lembra a importância que a instalação do grande órgão de tubos na Sé do Porto teve no movimento de regeneração musical numa cidade que deu cartas neste domínio, nos séculos XVII e XVIII. “Ultrapassado o apagamento da importância da música de órgão no país, em virtude de razões histórico-políticas, desde o liberalismo até à implantação da República, estamos agora a viver um movimento contrário”, diz o presidente do festival, cujo programa pretende “ajudar a levantar o pó” que ainda se acumula sobre estes instrumentos.
Sem nenhuma dúvida de que a região correspondente à diocese do Porto, com os seus 140 órgãos de tubos, “é a mais rica em todo o país”, Ferreira dos Santos diz que há ainda cerca de 1/3 daquele número à espera de restauro.
No caso específico do Porto, para além dos grandes órgãos da Sé (neobarroco) e da Lapa (sinfónico), o responsável pelo festival – e que integra também a direcção do Centro Europeu dos Festivais de Órgão, com sede na Alemanha – chama a atenção para “o grande e cuidado critério” que presidiu ao restauro dos órgãos das igrejas de Nossa Senhora da Conceição (ao Marquês), para a música romântica francesa, da Boavista, para a música ibérica, e de Cedofeita, para a música contemporânea. “Com esta variedade, o Porto é também um caso único no país”, nota Ferreira dos Santos.
Estes e outra vintena de órgãos existentes no Porto, Matosinhos, Gaia, Maia, Gondomar e Valongo vão ser os protagonistas – a solo ou em conjunto com coros e orquestras – do programa do festival, onde vão ser tocados por 23 organistas, entre portugueses e outros vindos de países de três continentes, incluindo a Ásia e a América.
Para além da extensão ao Grande Porto, outra inovação do programa do festival deste ano é a apresentação de concertos fora das igrejas – nos Passos Perdidos da Câmara do Porto, no metro (Aliados), na estação de comboios de São Bento e no aeroporto Francisco Sá Carneiro –, com instrumentos cedidos pela Universidade Católica.
Faz ainda parte do programa uma homenagem – no dia 19, data em que se assinala o 30º aniversário da inauguração do órgão da Sé – a Georg Jann, que inclui uma condecoração pela Câmara do Porto. E, aproveitando a presença de vários músicos, intérpretes e especialistas internacionais, também a realização de master-classes, encontros, workshops, visitas de estudo, além de um simpósio internacional sobre o órgão.