Estado adquire colecção de manuscritos de Garrett

A Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas comprou por 30 mil euros cerca de 400 páginas manuscritas que Garrett redigiu para o seu Romanceiro. A colecção, que inclui diversos textos inéditos, foi descoberta em 2004 e estava na posse da família Futscher Pereira.

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Almeida Garrett

São cerca de 400 páginas manuscritas, todas elas relativas ao trabalho de pesquisa e compilação das lendas e romances tradicionais empreendido por Garrett, e que resultou na edição dos três volumes do seu Romanceiro, o primeiro publicado em 1843 e os restantes em 1851.

O conjunto abarca um período que vai de 1839 até ao final da vida de Garrett e compreende 99 temas de romances, informa uma nota da Secretaria de Estado da Cultura (SEC), acrescentando que grande parte destes manuscritos, agora adquiridos por 30 mil euros, é inédita. “Muitos não foram publicados por Garrett no Romanceiro, outros foram”, diz José Manuel Cortês, responsável da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), a instituição que efectuou a aquisição.

Explicando que a própria família Futscher Pereira, quando da descoberta dos papéis, tomara a iniciativa de informar o Estado de que estava na posse destes manuscritos, José Manuel Cortês acrescenta que o espólio era conhecido e estava inventariado, e que esta aquisição só não terá ocorrido antes porque os proprietários do espólio não tinham até agora mostrado interesse em cedê-lo.

Segundo a SEC, os manuscritos serão “objecto de um contrato de depósito na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, enriquecendo, desta forma, o já importante espólio garrettiano de que a instituição dispõe”. Para já, no entanto, ficarão conservados na Torre do Tombo, diz José Manuel Cortês.

Enquanto escritor, Almeida Garrett é hoje sobretudo conhecido como o poeta das Folhas Caídas, o romancista de O Arco de Sant’Anna (1845-1850) e de Viagens na Minha Terra (1846), ou o dramaturgo de Frei Luís de Sousa (1843), e também como autor dos poemas Camões (1825) e D. Branca (1826), aos quais se atribui geralmente a introdução do Romantismo na literatura portuguesa. No entanto, a poucos projectos terá dedicado um tão persistente interesse como à sua recolha do romanceiro tradicional português. Missão em que lhe serviram de exemplo os trabalhos de autores como Walter Scott ou o bispo Thomas Percy – pioneiro compilador das Reliques of Ancient English Poetry –, com os quais teve oportunidade de se familiarizar durante o seu exílio em Inglaterra no final dos anos 20 do século XIX, quando D. Miguel regressou ao poder em Portugal.

Daí que estes manuscritos agora comprados pela DGLAB constituam um contributo importante, como sublinha o comunicado de Barreto Xavier, quer para o estudo do romanceiro português, quer para a compreensão da poética de Garrett.

Uma importância de que a família Futscher Pereira desde logo se apercebeu quando os papéis foram encontrados, em 2004, numa casa de Lisboa que pertencera aos seus antepassados Deslandes. Vera Futscher Pereira, prosseguindo o legado da sua falecida irmã Cristina, tem vindo a empenhar-se há anos na divulgação destes autógrafos, que foram já estudados em profundidade por Sandra Boto numa tese de doutoramento de 2011 intitulada As Fontes do Romanceiro de Almeida Garrett. “Ao apresentar (…) perspectivas inteiramente novas sobre o romanceiro garrettiano, o trabalho de Sandra Boto confere pleno sentido ao enorme esforço que minha irmã dedicou à divulgação deste espólio, em grande parte inédito”, diz Vera Futscher Pereira no seu blog Retrovisor, onde se podem ler dezenas de posts dedicados a Garrett.

Sabe-se que esta colecção de manuscritos pertenceu ao conselheiro Venâncio Augusto Delandes (1829-1909), mas nem as indagações da família nem a investigação de Sandra Boto permitiram ainda aclarar em que circunstâncias o espólio garrettiano veio às mãos deste antepassado dos Futscher Pereira, que foi administrador da Imprensa Nacional no terceiro quartel do século XIX.

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