Empire, série negra em TV branca

Série-fenómeno chega esta quinta-feira ao fim numa altura em que "as coisas estão a mudar" na diversidade racial da televisão dos EUA. Em Portugal, a novela A Única Mulher foca-se no racismo.

A série foca-se numa família de músicos
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A série foca-se numa família de músicos e na sucessão dentro da sua editora DR/© 2015 Fox and its related entities
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Taraji P. Henson é Cookie Lyon DR/© 2015 Fox and its related entities
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Terrence Howard é o patriarca doente Lucious Lyon DR/© 2015 Fox and its related entities
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Jussie Smollett é o filho do meio, Jamal Lyon DR/© 2015 Fox and its related entities
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Bryshere Y. Gray é Hakeem Lyon, o filho mais novo do clã DR/© 2015 Fox and its related entities
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Jennifer Hudson, actriz convidada, e Trai Byers, o filho mais velho Andre Lyon DR/© 2015 Fox and its related entities
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Snoop Dogg, à direita, numa participação especial DR/© 2015 Fox and its related entities
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Cuba Gooding Jr. foi actor convidado DR/© 2015 Fox and its related entities
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Naomi Campbell interpreta a ex-namorada de Hakeem, Camilla Marks DR/© 2015 Fox and its related entities
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Courtney Love participa como a cantautora rock Elle Dallas DR/© 2015 Fox and its related entities
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Uma série sobre família, sucessão, poder e luxo DR/© 2015 Fox and its related entities
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Lourenço Ortigão e Ana Sofia protagonizam "A Única Mulher" DR
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Ângelo Torres é o patriarca Norberto em "A Única Mulher" DR

Empire é um “nós os ricos” entre cenas da luta de classes com a cor da pele à mistura. A intriga é veloz, sacrificando a subtileza e “não se levando demasiado a sério”, elogia Robert J. Thompson, especialista em cultura popular na Universidade de Syracuse, nos EUA. Foca temas quentes que não só o do racismo - “Cookie, tenho de ir à TV branca e falar de uma maneira que não assuste de morte aquelas pessoas”, diz o patriarca e músico Lucious Lyon à ex-mulher que esteve presa 17 anos por tráfico de droga –, como o da homossexualidade na comunidade negra. Filma um dos filhos do magnata Lucious, Jamal, a usar os saltos da mãe quando era criança. O pai, enfurecido, põe-no no balde do lixo na rua – experiência pessoal do criador, realizador e produtor Lee Daniels, aos cinco anos.

Neste império musical, são trabalhados estereótipos vários numa série que Daniels descreve despudoradamente como uma “Dinastia negra”, aludindo à série dos anos 1980. Cookie Lyon (Taraji P. Henson), a matriarca com sabedoria de rua envolta em padrões leopardo, será a personagem emblemática dessa atmosfera “sem vergonha de ser exagerada”, como categoriza Thompson, e a estrela-surpresa de série que tem momentos clássicos "tão mau que é bom". Na mesma linha, “é O Padrinho por Aaron Spelling”, segundo o jornalista e crítico do site Grantland Wesley Morris, que associa esta luta de poder pela sucessão na editora Empire, por motivo de doença, às séries cor-de-rosa daquele produtor como Melrose Place ou Os Anjos de Charlie.

Empire é especial também pelos números – musicais, muitos, que pontuam a série à imagem de Glee ou Smash, mas sobretudo de audiências e de lucro. Desde a estreia até ao episódio final, a série captou cada vez mais espectadores, algo muito raro na televisão americana. O PÚBLICO pediu dados sobre as audiências na Fox Life, mas o canal não forneceu esses números.

A série que começou na cabeça de um dos seus criadores, o também actor Danny Strong, com uma mistura de entrevistas de Kanye West e Rei Lear, tornou-se no programa mais visto do país no cobiçado grupo de público entre os 18 e os 40 anos – algo que não acontecia desde a estreia de Anatomia de Grey, em 2005. Em média é também, desde que se estreou em Janeiro, a série mais popular no Twitter, suplantando Scandal (Fox) ou The Walking Dead (AMC, em Portugal Fox).

A história que propôs a Daniels (Precious, O Mordomo, também escrito por Strong, que assina ainda os últimos Jogos da Fome) tornou-se um fenómeno cultural e as conversas sobre Empire entre os executivos da Fox e os produtores passaram, como relatou sintomaticamente o New York Times, de frases a emojis. As palavras já não eram precisas. De chapéus festivos a confetti, de smiles com corações a coroas e, por fim, sacos de dinheiro. Acabou com mais espectadores do que a sitcom de duradouro sucesso A Teoria do Big Bang e a música original da série, produzida por Timbaland, tirou o novo disco de Madonna do número um do top de vendas nos EUA.

É, expectavelmente, a campeã de audiências entre os afro-americanos: 71% das mulheres negras vêem Empire e os negros com menos de 50 anos dão à série números superiores aos dos do habitual campeão de audiências anual dos EUA, o Super Bowl. E é também um espelho das tabelas de vendas, das rádios, dos liceus, da moda, do mainstream da cultura popular americana – o hip hop é a regra.

Empire “é retumbante e extravagantemente negra sem ser sobre ser negro. Aqui, o negro é-o simplesmente”, longe do gueto ou de uma postura à defesa, defendia Wesley Morris numa altura em que os motins de Ferguson estavam sanados mas antes de Baltimore se incendiar por mais uma morte de um jovem negro com envolvimento das autoridades. “Empire é uma parte importante do que estamos a ver na diversificação da programação nos EUA”, diz Thompson ao PÚBLICO, reconhecendo que “as coisas estão a mudar” na esteira de Raízes (anos 1970), Cosby Show (1980s) ou O Príncipe de Bel-Air (1990s) e no reverso da medalha de The Wire ou Treme. E quando há no horário nobre Scandal, Como Defender um Assassino (AXN), a comédia black-ish (ABC) e numa altura em que Larry Wilmore e Trevor Noah substituem Stephen Colbert e Jon Stewart na Comedy Central. “Mas essa não é a razão do sucesso” de Empire, defende o professor. “É porque é uma boa série, uma boa e velha telenovela nocturna” que o transportou para os anos 1980 e Dallas e Dinastia, longe dos dramas de prestígio como Breaking Bad ou True Detective e em plena indústria musical trespassada por “temas shakesperianos que lhe dão uma densidade divertida”.

Mais de 17 milhões de americanos viram em directo o episódio que a FoxLife transmite esta noite, e juntando-lhe as audiências em diferido foram 23,1 milhões. Também em Portugal, actores como Ana Sofia Martins ou Ângelo Torres protagonizam a novela A Única Mulher, focada no tema do racismo: dois jovens apaixonados, ela uma enfermeira angolana, ele (Luís Miguel, interpretado pelo actor Lourenço Ortigão) um engenheiro português, as suas famílias desavindas pela diferença da cor da pele.


Competindo com o êxito da SIC que é Mar Salgado – o programa mais visto em Portugal nos dias úteis - A Única Mulher, que se estreou a 15 de Março, surge na sua peugada e nalguns dias bate mesmo a novela da estação de Carnaxide, que está há mais tempo no ar. A Única Mulher está também a ser transmitida em Moçambique e em Angola, país cuja novela Windek a RTP estreou em 2013 e à qual sucederá no canal público Jikulumessu - Abre o Olho, em Maio.

A “hip hopera”, como também é chamada Empire, é um drama familiar com um outro elemento chamativo: “Colocar a série numa editora de sucesso, focando-a nas pessoas que vingaram e que querem vingar é um elemento muito importante”, defende Robert J. Thompson, director do Bleier Center for Television & Popular Culture. As personificações do sonho americano estão todas no guião. É só seguir as pistas ou dar de caras com elas.

A série inspira-se na vida de Jay Z, assume muita da imprensa, mas também há ecos das histórias de Puff Daddy ou Russell Simmons no Lucious Lyon de Terrence Howard. A personagem Tianna é Rihanna? O filho mais novo, o rebelde Hakeem, tem um toque de Chris Brown? Ou será de Tyga? O filho do meio, Jamal, pode ser um Miguel ou mesmo um Frank Ocean por afirmar a sua homossexualidade? Depois, há as estrelas convidadas. Delphine é interpretada por Estelle, Mary J. Blige, Snoop Dogg, Courtney Love, Naomi Campbell, Jennifer Hudson e Cuba Gooding Jr. têm pequenos papéis e tudo indica que Oprah e Common vão participar na próxima temporada. 

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