Deputados de Coimbra "chocados" com antologia de poesia do século XX
O texto "Manifesto contra uma antologia poética grosseiramente discriminatória" foi subscrito pelos deputados de Coimbra e protesta contra o "esquecimento, ou saneamento" que a antologia fez de poetas como António Botto, Manuel Alegre, Miguel Torga, Natália Correia, António Gedeão, Adolfo Casais Monteiro, Florbela Espanca, Manuel da Fonseca e Pedro Homem de Melo.
Assinado por deputados socialistas como Almeida Santos, Helena Roseta, Fausto Correia, sociais-democratas como Manuel Dias Loureiro, Paulo Pereira Coelho e Teresa Morais, os autores do manifesto dizem-se "chocados" pelos critérios subjacentes a uma antologia "patrocinada pelos responsáveis do programa Coimbra 2003 - Capital Nacional da Cultura.
"É particularmente chocante a segunda morte de Torga, tão grande que mereceu o Prémio Camões e foi proposto para o Prémio Nobel, ou a exclusão de Manuel Alegre, poeta da liberdade e o mais cantado poeta português", refere o manifesto dos dez deputados de Coimbra.
Pegando no título da obra, o "Século de Ouro", os dez deputados de Coimbra apresentam uma explicação jocosa para justificarem "o ângulo" escolhido pelos promotores da antologia poética: "Os organizadores - assim se intitulam - são péssimos ourives. Decerto, por isso, à falta de explicação mais convincente, deixaram de fora ouro poético de lei - isto é, alguns dos maiores e mais consagrados poetas do século -, preferindo a esses poemas e poetas" outros "de menos quilates, se é que de algum", refere o manifesto.
Para os deputados de Coimbra, sendo o livro "volumoso, de gorda lombada, passante de 600 páginas, também não foi por falta de espaço que ficaram de fora tantos e tão ilustres poetas".
Noutra nota irónica, os deputados de Coimbra fazem alusão ao objectivo da obra pretender ser "uma antologia do sublime poético". "Só que muito do sublime ficou de fora e nem tudo o que foi seleccionado preenche esse louvável requisito", salienta o manifesto.
Os deputados socialistas e sociais-democratas interrogam-se igualmente como foi possível "aceitar sem comentário que tenham sido seleccionados quase tantos poemas da última década como da primeira metade do século XX".
"Terá algo a ver com isso o facto de, entre os critérios de selecção dos críticos, figurar o terem preferido críticos com obras emergentes", perguntam os parlamentares de Coimbra. "Como puderam aceitar, sem uma íntima revolta, que em lugar dos mais representativos poetas tenham sido seleccionados alguns poetas menores, e até poemas em prosa, ou prosas alinhadas em forma de poemas", interrogam-se ainda os autores do manifesto.
"Em nome de Coimbra, os signatários resistem a deixar-se provocar, mas não resistiram ao registo e à divulgação deste protesto", referem os deputados, deixando um recado aos responsáveis pela edição da controversa antologia.
"Fiquem os responsáveis pela desastrada antologia com a auto-satisfação de que se ufanam. Os signatários ficarão com a sua indignação e o seu desgosto" concluem os deputados de Coimbra.