Cristiana Águas: O fado tornou-se uma coisa séria, de que nunca mais me consegui libertar”

Deu voz a Amália enquanto jovem no filme homónimo e agora lança um disco com pontes para o Brasil. Nome? Cristiana Águas.

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Cristiana Águas Alfredo Matos

Nasceu a 7 de Março de 1988, em Setúbal, uma cidade que lhe “diz muito” e da qual diz ter “muito boas recordações”. Pai e mãe não tinham ligações à música, os avós sim. “A minha avó, como alentejana que era, cantava aqueles cânticos, aquelas modas, e o meu avô tocava acordeão. Mas não profissionalmente.”

Muito nova, Cristiana cantava vários géneros: canções ligeiras, populares, baladas. Músicas que passavam na rádio. “Mais tarde foi-me apresentado o fado, através de uma professora de canto. Eu já tinha pisado palcos a cantar, nomeadamente o do Luísa Todi, mais como brincadeira, tinha uns 8 ou 9 anos, ainda. Essa professora disse-me que achava que eu tinha uma voz e uma forma de estar que lhe lembrava muito o fado.” E apresentou-lhe a voz e a arte de Amália. “Foi uma paixão avassaladora. Pedi à minha mãe para comprar os discos e cassetes possíveis. Depois comecei a ouvir outros fadistas. Como o Max.” Estava ainda longe de saber que iria dar voz a Amália no filme de Carlos Coelho da Silva (fez de Amália mais nova numa parte do filme, só voz, o rosto era o de Sandra Barata Belo).

Mas, antes, foi cantando em colectividades até chegar às casas de fado. Em Setúbal, em Lisboa, em concursos de fado. “Para ir treinando. Mas acabou por se tornar uma coisa séria, de que nunca mais me consegui libertar.” O presidente da Fundação Amália falou um dia nela ao guitarrista Mário Pacheco, ele ouviu-a cantar e desafiou-a para entrar no elenco do Clube de Fado. Ora foi precisamente aí que Pierre Aderne, músico brasileiro que tem fortes laços com Portugal, a ouviu. E resolveu desafiá-la a gravar um disco. Assim nasceu Cristiana Águas, o disco que ele produziu e está agora a ser lançado.

Ela não o conhecia, nunca tinha ouvido falar dele, quem os apresentou foi Cuca Roseta, amiga de ambos. Pierre tinha na cabeça um projecto para alguém fadista, “mas que cantasse outras sonoridades sem deixar de ser fado”. A voz de Cristiana pareceu-lhe adequada ao projecto e avançaram. Há temas do próprio Pierre, vários, mas também de Luiz Caracol, Domingos Lobo, Mário Pacheco, Diogo Vassalo ou Philippe Baden Powell. E há duetos, três: dela com Pedro Moutinho, com Cuca Roseta e com Ney Matogrosso, num tema dos mais emblemáticos dos Secos & Molhados, Sangue Latino. Este gravaram-no juntos no Brasil, ela foi lá. “É impressionante, a maneira como ele se transforma a cantar, como ele vive a canção, o timbre... É maravilhoso, transcendente.”

Do disco, não consegue escolher uma canção que lhe seja mais próxima. São todas. “Porque marcaram a fase mais importante da minha vida, que foi ser mãe. Foram as músicas que embalaram a minha gravidez, o nascimento da minha menina.” O disco acabou por ser, assim, um “irmão” sonoro, outro filho. Que já começou a gatinhar.

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