Bosch pintou mesmo o Juízo Final de Bruges

Até agora atribuído à oficina de Hieronymus Bosch, o tríptico do Juízo Final conservado em Bruges, no Museu Groeninge, será afinal da autoria exclusiva do mestre holandês.

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O Museu Groeninge, na cidade belga de Bruges, não poderia ter recebido melhor notícia: o seu trípitico do Juízo Final, até agora apresentado pela própria instituição como uma obra “executada com a participação da oficina” de Hieronymus Bosch (c.1450-1516), terá sido mesmo pintado pelo próprio mestre e por mais ninguém.

A equipa internacional de peritos do Projecto de Investigação e Conservação de Bosch, que tem como objectivo chegar a um cânone definitivo dos trabalhos deixados pelo pintor, é taxativa: “aqui houve só uma mão”, e foi a do mestre.

“Sabíamos que o painel tinha o necessário equilíbrio entre o desenho inicial e a pintura, e agora comprovámo-lo”, disse o coordenador do projecto, Matthijs Ilsink, ao diário holandês de Volkskrant. “A execução é rápida, mas perfeita, com pinceladas frescas feitas umas sobre as outras, como é próprio de um mestre”.

Conservado no Museu Groeninge, e por isso também conhecida como Juízo de Bruges, o tríptico, que acaba de ser restaurado, é já a décima obra analisada pela equipa de Ilsink ao abrigo deste projecto, lançado a pretexto dos 500 anos da morte de Bosch, que se celebrarão em 2016.

E se o veredicto agora divulgado foi uma boa surpresa para Bruges e para o seu museu, já o Museu do Prado recebeu notícias menos agradáveis. A pintura Os Sete Pecados Capitais, conservada no museu de Madrid, “não pode ser adjudicada a Bosch”, decretaram os especialistas liderados por Ilsink no início do mês. A autoria deste óleo sobre madeira já tinha sido questionada, mas nunca fora tão peremptoriamente banida do cânone, uma decisão que o museu espanhol contesta, adiantando que irá divulgar os resultados das suas próprias análises ao quadro em Maio de 2016, data prevista para a inauguração de uma grande exposição de Bosch no Prado.

O Juízo de Bruges, que terá sido realizado entre 1505 e 1515, não é o mais conhecido dos trabalhos de Bosch que têm como tema o Juízo Final, e era geralmente considerado de qualidade inferior ao de Viena, como é conhecido o tríptico que se encontra na Academia de Belas Artes da capital austríaca. Bosch pintou ainda um terceiro e não menos importante Juízo Final, do qual nos chegou apenas um fragmento, hoje propriedade de um museu de arte alemão, a Alte Pinakothek de Munique.

O pintor raramente assinava ou datava as suas obras, de modo que incluir ou excluir uma pintura do seu catálogo canónico é sempre susceptível de gerar controvérsia. E a equipa de Matthijs Ilsink tem plena consciência de que autenticar como genuína realização de Bosch um trabalho até agora apenas atribuído à sua oficina é uma decisão que pode aumentar o valor de uma pintura em milhões de euros. Daí que, a par da observação directa e da análise do estilo, este Projecto de Investigação e Conservação procure utilizar todas as ferramentas científicas ao seu dispor, a fotografia e reflectografia de infravermelhos, os raios X, vários métodos de análise microscópica electrónica ou ainda a datação através da análise dos nós da madeira usada nos painéis.

Entre as várias obras de Bosch já restauradas a pensar nas grandes exposições que assinalarão o quinto centenário da sua morte – a primeira terá lugar em Fevereiro na Holanda, no Museu da Brabante do Norte, na cidade holandesa onde o pintor nasceu, 's-Hertogenbosch (também conhecida como Den Bosch) –, contam-se o São Jerónimo do Museu de Belas Artes de Gante, o São Cristóvão conservado no Boijmans van Beuningen de Roterdão, A Nave dos Loucos (Louvre, Paris), o tríptico do Calvário (Museu de História de Arte de Viena), os trípticos dos Mártires Crucificados e dos Eremitas (ambos na Galeria da Academia, em Veneza) e A Adoração dos Magos – a do Museu de Arte de Filadélfia, nos Estados Unidos, e não a pintura homónima do Prado, que ali poderá ser vista em Maio, mas que não integrará a exposição de Fevereiro em Den Bosch.

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