}

Baldes e esfregonas para reabrir o Convento de Santa Clara-a-Velha

Águas do Mondego voltaram a invadir o mosteiro gótico de Coimbra. Terça-feira, a manhã será de limpezas, com o monumento encerrado.

Fotogaleria
O mosteiro que é monumento nacional foi novamente invadido pelas águas do Mondego Sérgio Azenha
Fotogaleria
Sérgio Azenha
Fotogaleria
Sérgio Azenha

Terça-feira de manhã, muitos dos funcionários da Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC) vão calçar as galochas e pegar em esfregonas e baldes para limpar o Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. Quem o garante é a directora regional, que fará parte deste “grupo de intervenção rápida” que vai tentar devolver ao público, logo ao início da tarde, este monumento nacional (1910), fundado no final do século XIII, que tem tido uma vida conturbada, em boa parte devido à sua localização, na margem esquerda do Mondego, no leito de cheia do rio.

“Neste momento, tirar a água e limpar a lama é tudo o que podemos fazer”, diz Celeste Amaro, a directora regional que esta manhã foi surpreendida com a notícia de que a albufeira da Barragem da Aguieira, no Mondego, tinha já atingido a quota máxima e de que, por isso, estava prevista uma descarga que certamente iria afectar este edifício, mais conhecido como Convento de Santa Clara-a-Velha.

Teria sido útil, admite ao PÚBLICO, que as “entidades competentes” tivessem informado os serviços da DRCC de que o “caudal do rio iria subir muito e em muito pouco tempo” durante a manhã e o início da tarde. É habitual, explica, o mosteiro ter água, mas, “nestes termos, há muitos anos que não acontece”. Todo o interior e o exterior estão inundados, garante.

“Por agora, não podemos fazer mais nada senão esperar”, lamenta. “É a força da natureza – quando chove muito, a Aguieira enche e, a dada altura, tem de abrir as comportas. Mas seria bom que fôssemos avisados. Temos os motores e a barreira [uma protecção que faz parte do projecto de valorização do monumento, da autoria do arquitecto Alexandre Alves Costa] para proteger o mosteiro do rio, mas às vezes não chega.” Os “motores” a que se refere são quatro bombas que devem funcionar 24 horas por dia, 365 dias por ano, para retirar água do edifício. Só que esta segunda-feira, para piorar a situação – mesmo em condições normais, os motores provavelmente não teriam capacidade para escoar tal volume de água, explica –, faltou a electricidade e as bombas deixaram de funcionar.

Celeste Amaro, que esteve todo o dia de segunda-feira em reuniões em Lisboa, ainda não tinha ido ao convento, mas esteve em contacto permanente com a sua equipa. “Todo o mosteiro está transformado num lamaçal, o que me deixa muito preocupada, embora de nada me sirva a preocupação. Todo o material arqueológico que lá está ficou debaixo de água. As hortas, as salas, tudo coberto de água… Não posso entrar em pânico – posso esperar e pensar no dia de amanhã, que é de limpezas.”

O centro interpretativo, onde estão instaladas as exposições temporária e permanente — a face mais visível da intervenção de Alves Costa, que permitiu reabrir o monumento em 2009 —, não foi afectado, garante a directora regional.

As inundações são frequentes neste mosteiro com mais de 700 anos, que já foi abandonado mais do que uma vez. Foram as cheias provocadas pela subida do Mondego que levaram a que as monjas clarissas que ali viviam no século XVII, confrontadas com a lama que invadia a igreja e os claustros, o deixassem vazio, mudando-se em definitivo para outra casa religiosa um pouco mais acima, na colina, o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.

Objecto de escavações desde meados da década de 1990, Santa Clara-a-Velha foi alvo de amplas intervenções de conservação e restauro que terão custado aos cofres públicos mais de 15 milhões de euros. Por trás da morosidade e do elevado custo dos trabalhos neste edifício gótico estiveram, precisamente, as difíceis condições técnicas ditadas pelas inundações frequentes.

Desde que reabriu, em 2009, pondo fim a um projecto de valorização que começara cinco anos antes, o monumento tem conhecido um acréscimo de público. Em 2015, foi visitado por mais de 61 mil pessoas, o número mais elevado de sempre.

Sugerir correcção
Comentar