Australiano Richard Flanagan ganha Man Booker Prize

Terceiro australiano a receber prémio venceu com romance The Narrow Road to the Deep North.

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Richard Flanagan durante o seu discurso de aceitação em Londres: "Romances são a vida ou não são nada" REUTERS/Alastair Grant/
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O escritor posa para os fotógrafos depois do anúncio do prémio AFP/Ben Stansall

Flanagan, de 53 anos, é o terceiro australiano a vencer este prémio que vale 50 mil libras (63 mil euros), depois de Thomas Kenneally (Schindler’s Ark, 1982) e Peter Carey (Oscar e Lucinda, 1988, e A verdadeira história do bando de Ned Kelly, 2001, ambos editados em Portugal pela Dom Quixote).

O livro conta a história de um cirurgião preso num campo de trabalho entre a Tailândia e a Birmânia, conhecido como “o caminho-de-ferro da morte”.

"Os dois grandes temas desde a origem da literatura são o amor e a guerra: este é um romance magnífico de amor e guerra", disse o académico Anthony Grayling, presidente do júri, sublinhando que "este é o livro que Richard Flanagan nasceu para escrever".

Autor de O Livro dos Peixes de Gould: uma história de doze peixes, (2001, editado pela Dom Quixote em Portugal em 2006), Death of a River Guide (1994), The Sound of One and Clapping (1997), The Unknown Terrorist (2006) e de Wanting (2008), Flanagan declarou que a ideia do chamado "caminho-de-ferro da morte" influenciou a sua vida.

"Em criança, o meu pai ensinou-me as palavras japonesas 'san byaku san ju go'. Era o seu número, 335, pelo qual respondia como trabalhador escravo dos japoneses na ferrovia da morte", lembrou Flanagan. No início do discurso, o escritor sublinhou que não vinha de uma tradição literária: "Venho de uma pequena cidade mineira na floresta tropical numa ilha no final do mundo. Os meus avós eram iletrados. Eu nunca esperei estar aqui em Londres à vossa frente como escritor e ser tão honrado."

Richard Flanagan estudou literatura na Universidade de Oxford, onde entrou com uma bolsa de estudos depois de ter abandonado a escola aos 16 anos. Antes de passar à ficção, escreveu livros de história. Disse que não partilhava o pessimismo actual em relação ao romance: "É uma das invenções intelectuais, estéticas e espirituais. Como espécie é a história que nos distingue, e uma das expressões supremas da história é o romance. Romances não são conteúdo. Nem são o espelho da vida ou uma explicação da vida ou um guia para a vida. Romances são a vida ou não são nada."

O romance que lhe valeu o Man Booker Prize demorou 12 anos a escrever. O pai morreu no dia em que terminou o livro.

O Man Booker Prize é um dos prémios literários mais prestigiados do mundo. Criado em 1969, é habitualmente significado de uma subida nas vendas.

O prémio é entregue ao que for considerado o melhor romance original em língua inglesa. Segundo a BBC, este foi o primeiro ano em que o Man Booker foi aberto a todos os autores de língua inglesa, independentemente da nacionalidade.

Segundo a editora de literatura do Guardian, Justine Jordan, apesar de a escolha de Richard Flanagan poder ser vista como conservadora, é uma aproximação nova a um assunto terrível: por isso, é ao mesmo tempo uma difícil vitória e "uma escolha sólida do júri".

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