Arqueólogo de Foz Côa co-edita livro sobre arte rupestre para a conceituada Routledge

Volume reúne contribuições de investigadores internacionais numa área que tem sido "o patinho feio" da arte rupestre.

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Quando as gravuras de Foz Côa foram descobertas, em 1994, apenas existiam “um ou dois sítios” de arte rupestre ao ar livre Paulo Pimenta

O livro de 278 páginas Open-Air Rock-Art Conservation and Management: State of the Art and Future Perspectives (“Conservação e Gestão de Arte Rupestre ao Ar Livre: O Estado da Arte e Perspectivas Futuras”, numa tradução literal) reúne as contribuições de diversos investigadores internacionais especialistas em conservação de arte rupestre ao ar livre.

Este campo específico, de estudos sobre arte rupestre ao ar livre, tem recebido relativamente pouca atenção, em contraste com a extensa pesquisa que tem sido desenvolvida sobre a preservação de arte rupestre em ambientes protegidos como cavernas e abrigos rochosos. António Batarda, que co-edita o volume com Timothy Darvill, arqueólogo e professor da Bournemouth University, em Inglaterra, nota ao PÚBLICO que os sítios arqueológicos de arte rupestre ao ar livre eram até há pouco tidos como “o patinho feio”. “É muito pouca a literatura que existe sobre conservação de arte rupestre ao ar livre. Quando cheguei ao Parque Arqueológico do Vale do Côa, em 2000, ela estava reduzida a newsletters e fóruns de discussão mais ou menos obscuros”, diz.

O volume agora publicado corresponde a uma vontade de “trazer para o mainstream” esta área de estudos e resultou de uma proposta feita pelos dois co-editores à Routledge que teve como ponto de partida os papers apresentados numa sessão por eles organizada durante o Congresso da Associação Europeia de Arqueólogos de 2010.

O livro apresenta quase duas dezenas de casos, da Austrália aos Estados Unidos. Um dos capítulos, assinado por António Batarda Fernandes, é dedicado ao Vale do Côa – um dos dois sítios arqueológicos de arte rupestre ao ar livre no mundo onde se está a estudar a relação entre as variáveis meteorológicas (radiação solar, precipitação, humidade, etc) e o grau de degradação nas rochas gravadas consoante a sua orientação cardial (painéis expostos a norte ou a sul).

Os métodos e filosofias de conservação de arte rupestre ao ar livre continuam a ser matéria de amplo debate, por vezes, até entre arqueólogos que trabalham no mesmo local.

O Vale do Côa é “O santuário de arte rupestre ao ar livre na Europa, com O maiúsculo”, diz António Batarda Fernandes ao PÚBLICO, pela quantidade ímpar de gravuras e rochas gravadas que sobreviveram – cerca de mil rochas gravadas, metade das quais datam do Paleolítico Superior. O arqueólogo nota que quando as gravuras de Foz Côa foram descobertas, em 1994, apenas existiam “um ou dois sítios” de arte rupestre ao ar livre desse mesmo período pré-histórico. Actualmente, existe já uma dezena.

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