Alentejo deve conquistar esta terça-feira segundo selo da UNESCO em dois anos

Depois do Cante Alentejano, o fabrico de chocalhos está a um passo de entrar também na lista do Património Imaterial da Humanidade. Decisão é tomada esta terça-feira de manhã, na Namíbia.

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Francisco Cardoso a fazer chocalhos dr
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Chocalhos do Alentejo dr, cedido por paisagem-id

A arte chocalheira do Alentejo deve conquistar nesta terça-feira o título de Património Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente, atribuído pela UNESCO — Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. A decisão vai ser tomada na manhã desta terça-feira, pelo Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património, que está reunido em Windhoek, capital da Namíbia, e a comitiva portuguesa está muito confiante na aprovação da candidatura.

Ouvidos pelo PÚBLICO, na capital namibiana, todos os responsáveis disseram esperar uma decisão favorável, até porque a comissão internacional de especialistas da UNESCO considerou já a candidatura alentejana como uma referência.

“As expectativas são positivas, o dossier foi bem elaborado, o comité que faz a avaliação técnica considerou-o exemplar, fomos bem recebidos e estamos cada vez mais inseridos no espírito do comité da UNESCO”, disse António Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERT), que lidera a candidatura, em parceria com a Câmara Municipal de Viana do Alentejo e a Junta de Freguesia de Alcáçovas.

Ceia da Silva não esconde “o nervosismo miudinho que existe nestas alturas”, mas mostrava-se, nesta segunda-feira, confiante  que o grupo português possa levar “não o caneco, mas o chocalho para Portugal, como mais uma referência para o país e, em especial, para o Alentejo”.

As expectativas dos autarcas que integram a comitiva vão no mesmo sentido. “Nós estamos confiantes, pelas avaliações que foram feitas, cremos que a perspectiva da UNESCO é que a candidatura é das melhores. Aliás, indicaram-na até como candidatura-modelo”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Viana do Alentejo, Bengalinha Pinto.

Por parte da comissão científica, a confiança é similiar. “Do relatório feito pelo corpo de avaliação, parece que o fabrico de chocalhos tem possibilidade de ser inscrito”, disse ao PÚBLICO o coordenador da candidatura, Paulo Lima. O antropólogo é também o pai da ideia de candidatar esta arte a património mundial.

A confirmar-se o estatuto de Património da Humanidade para a Arte Chocalheira, o Alentejo conquista, pelo segundo ano consecutivo, mais um selo da UNESCO para a região, depois da atribuição, em Novembro do ano passado, de idêntico título ao cante alentejano.

O Alentejo tem já, também, dois títulos de Património Material da Humanidade atribuídos, em 1996, ao centro histórico de Évora, e em 2012, às fortificações de Elvas. Títulos que, a somar a duas distinções no domínio do património imaterial, fazem da alentejana a região do país com mais selos da UNESCO.

E a tendência é para aumentar a distância, nessa matéria, entre o Alentejo e as demais regiões de Portugal. A avaliar pelas intenções dos responsáveis alentejanos e pelos projectos já em curso, há, pelo menos, mais quatro candidaturas a apresentar à UNESCO nos próximos anos.

Ceia da Silva refere as Festas do Povo de Campo Maior, a candidatar em 2016, e o Montado (floresta de sobreiros) como candidato a Paisagem Protegida, em 2017, mas, entretanto, a entidade de turismo está já a trabalhar na instrução de mais dois processos, designadamente as jangadas de São Torpes — um barquinho de cana feito pelos últimos assalariados rurais desta zona de Sines, para mariscarem nas rochas junto ao litoral— e os tapetes de Arraiolos.  

Arte em extinção
O fabrico de chocalhos é uma arte milenar que tem no território alentejano a maior expressão a nível nacional, onde abrange três municípios; Estremoz, Reguengos de Monsaraz e Viana do Alentejo, com destaque para a freguesia de Alcáçovas.

Segundo a comissão científica da candidatura a património da humanidade, coordenada por Paulo Lima, e que integra também o professor Jorge Branco, trata-se de uma arte iniciada há mais de dois mil anos, no Alentejo, mas que está agora em risco de extinção.

“O chocalho está em risco porque hoje há outras formas que os produtores e outros agentes ligados ao gado, utilizam, como chips e outras soluções electrónicas, e o chocalho ficou um bocadinho fora de contexto”, explica Ceia da Silva.

A ameaça do fim desta actividade é de tal forma actual que até já os mestres que estão identificados na candidatura abandonaram, entretanto, a profissão. “Neste momento, os chocalheiros que estão na lista já não estão activos, ou seja, em dois anos nós perdemos grande parte dos chocalheiros”, revela Paulo Lima.

Segundo Ceia da Silva, a candidatura tem, por isso, como “grande objectivo” permitir que “o chocalho possa ser utilizado para outras aplicações, na oferta turística, como produto de artesanato. Um efeito que comecou a sentir-se em Alcáçovas ainda antes de qualquer decisão da UNESCO.

De acordo com a presidente da Junta de Freguesia de Alcáçovas, a localidade tem vindo a assistir a um importante incremento desta actividade. No último ano iniciaram-se dois novos mestres chocalheiros, jovens na casa dos 30 anos de idade, que abriram uma nova fábrica-oficina de chocalhos, e um novo esquilaneiro —que faz esquilas e esquilões.  “O novo esquilaneiro, que aprendeu com o pai, tinha a actividade parada e com este impulso da elaboração da candidatura é que ele retomou a produção”, disse Sara Pajote.

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