É belíssima a maneira como Vitor Gonçalves consegue uma das coisas mais difíceis de conseguir em cinema – a “interioridade” da narração, e consequentemente do ponto de vista – e o modo como isso é rimado, quase um kammerspiel, pelos espaços escuros, cerrados e delimitados em que a acção progride, numa “arquitectura da solidão”, onde tudo é fechamento ou distância inultrapassável (magnífica a cena com o par protagonista perante a grande janela de um hotel aberto para o rio). Ou a poderosa melancolia que o realizador arranca do seu olhar sobre Lisboa (Terreiro do Paço e zona ribeirinha), filmada como se fosse a primeira vez. E aquele peso que Vitor Gonçalves faz cair sobre as personagens, que não é apenas “psicológico”, é físico e vem do ritmo das vozes e dos gestos, e da maneira como os actores habitam os enquadramentos (todas as cenas com o enorme João Perry são, a este respeito, notáveis).
Grande regresso e grande filme, quase maníaco na sua precisão, tão secreto como uma cripta.
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