Álvaro Siza vai construir a Porta Nova de acesso aos palácios do Alhambra

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"A preocupação, se é que não se deve dizer o medo, está em trabalhar junto à beleza extrema do Alhambra"

O projecto do arquitecto português e do espanhol Juan Domingo Santos inclui um terraço panorâmico, e um novo edifício, com três pátios, um deles com um espelho de água

Uma sequência de três pátios e um espelho de água - será assim a nova entrada para os palácios do Alhambra, em Granada, Espanha, desenhada pelo arquitecto português Álvaro Siza e pelo espanhol Juan Domingo Santos, vencedores do concurso de ideias para o local que na época alta chega a receber oito mil visitantes por dia.

Foi um projecto "dificílimo", disse ontem ao PÚBLICO Álvaro Siza, que durante dois meses trabalhou exclusivamente nos planos para o que, juntamente com Domingo Santos, baptizou como a Porta Nova. Difícil porque havia "aspectos de ordem funcional muito complexos" e uma topografia acidentada, mas também pelo peso histório e simbólico do local. "A preocupação, se é que não se deve dizer o medo, está em trabalhar ao lado da beleza extrema que é a do Alhambra."

No início os arquitectos questionaram-se: "Devemos agarrar-nos mais ao que é o Alhambra, com a sua arquitectura exteriormente tão severa mas ao mesmo tempo tão delicada?" Ou deveriam adoptar uma postura diferente, tendo em conta que no recinto do Alhambra existe também o Palácio de Carlos V, um imponente edifício renascentista, "marcadamente em oposição" aos palácios do século XIV. Para Siza, este é um edifício "extraordinariamente atractivo, porque estando em oposição consegue refazer a ordem do Alhambra e estabelece uma relação muito bem conseguida com os palácios."

Só que o que Carlos V pretendia fazer era uma "afirmação de poder" - "e não é esse o caso do programa de hoje, onde a questão principal é a do conforto", explica, com um sorriso. "Qualquer arquitecto chega ali e pensa que não pode ficar preso à arquitectura do Alhambra, por muito bela que seja, porque o nosso programa corresponde a outra época. Não se pode fundir com o Alhambra mas tem que se relacionar bem como ele, como o Palácio de Carlos V".

O que tinha sido pedido aos dois arquitectos fora uma reorganização das zonas de bilheteiras e das áreas de espera destinadas aos visitantes. "O que fizemos foi um edifício que distribui os acessos, e que inclui o átrio, que é a peça principal, a zona da administração, uma loja, um restaurante, um auditório e uma sala de exposições", descreve Siza. "A partir dele, e através de uma sucessão de pátios, entra-se na rua dos ciprestes que dá acesso aos palácios." Siza aproveitou um percurso de água existente na zona das actuais bilheteiras e criou um espelho de água num dos três pátios.

Quando a obra estiver concluída, vai-se passar a ter uma perspectiva sobre o Alhambra que até aqui não existia. "Entra-se à cota superior, o que dá origem a um grande terraço panorâmico" do qual se poderão ver os palácios. É desse terraço, com uma cafetaria e lojas, que se desce para o átrio principal.

A escolha dos materiais prende-se com a preocupação em integrar o edifício na paisagem, explicou Domingo Santos ao El País. Será utilizado o "betão Alhambra", que tem cor e é, diz o arquitecto, "uma interpretação contemporânea do material com o qual se construiu o monumento e contém pigmentos e areias da colina de La Sabika." Para o chão será utilizado o empedrado tradicional de Granada, e nas zonas interiores o mármore branco, o mesmo que é usado nas salas interiores do Alhambra.

O projecto assinado por Álvaro Siza e por Juan Domingo Santos, arquitecto de Granada, foi escolhido entre 41 projectos concorrentes vindos de dez países, e será exposto no Palácio de Carlos V. O orçamento da obra é de onze milhões de euros, de acordo com o El País.

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