O ballet de Victor Hugo Pontes no festival Panorama do Rio de Janeiro

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A Ballet Story, de Victor Hugo Pontes Susana neves

Ana Borralho e João Galante vão concluir a participação portuguesa, domingo e segunda, com 100 voluntários em cena

Depois de uma emocionante abertura com A Viagem, de Filipa Francisco, e do concerto de Lula Pena no Parque Lage (antecedido da instalação-performanceWorld of Interiors de Ana Borralho/João Galante), a participação portuguesa no festival Panorama de dança prossegue hoje e amanhã com A Ballet Story, de Victor Hugo Pontes, no Teatro João Caetano, Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro.

"Este trabalho surgiu de um convite de Guimarães Capital da Cultura para criar um ballet para o balletZephyrtine, de David Chesky, porque nunca tinha sido tocado ao vivo, existia só um libreto e a partitura, e eles tinham intenção de a tocar", explica Pontes, actor, encenador, coreógrafo, cenógrafo, sediado no Porto.

Zephyrtine é "um conto de fadas para crianças", e a ideia de Guimarães seria um ballet infantil. "Como não queria fazer uma peça para crianças, peguei na música e tentei fazer o meu próprio ballet." O convite foi em Fevereiro de 2011, a estreia em Fevereiro de 2012. "Tive um ano para pensar, com dois meses de ensaios, de construção da peça. Considerei a música como o batimento cardíaco. É uma música muito cheia, muito rica. O ritmo estava instaurado. Pensei em jogar com oposições, momentos em que ia contra a música, em braços-de-ferro, e momentos em que a música vai junto com os bailarinos."

O cenário que os espectadores cariocas vão ver é uma herança de uma encenação de Tchekhov. "Reaproveita um cenário das Três Irmãs do Fernando Ribeiro, em que participei. Uso-o como sendo uma folha de papel branca, suspensa no ar, onde as personagens aparecem e desaparecem, onde há um desenho que é feito e apagado constantemente, como efémera que é a performance."

Actuam cinco bailarinos e duas bailarinas. "Há momentos de coro, solos, duetos, a estrutura clássica do ballet, apesar dos movimentos que fazem não serem nada baléticos. A peça nasce da articulação do movimento abstracto com o próprio espaço, sem pensar muito no que eu queria dizer. Seguir um impulso. A música já era um input tão grande." Nem há integração de objectos. "Dança-se do princípio ao fim."

Só depois de estar concluído, o autor começou a pensar em significados. "Não queria fechar-me numa possibilidade. Quero que cada um construa o seu próprio ballet. No ballet clássico distribui-se um libreto antes. Aqui eu queria que as pessoas ficassem livres."

A diferença essencial em relação à estreia é que no Rio A Ballet Story não vai ter orquestra ao vivo. "Mas vamos usar a gravação da Fundação Orquestra Estúdio, que tocou em Guimarães."

O Panorama é o mais importante festival brasileiro de dança, e tem um cunho experimental. Victor participou em 2011, com um espectáculo infantil e um workshop em Brasília.

Domingo e segunda é a vez de Atlas, de Ana Borralho e João Galante, um espectáculo com 100 voluntários cariocas, concluindo uma residência dos autores no Rio de Janeiro.

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