Um novo cinema de blockbusters a quatro euros em Lisboa, com alguns patrocinadores à mistura
A portuguesa @Cinema começa a operar no Saldanha Residence, em Lisboa, esta quinta-feira.
“Só trabalhamos com blockbusters – o nosso target é muito específico, jovem e os jovens querem é ver este tipo de filmes”, disse ao PÚBLICO na manhã desta terça-feira Francisco Serranito, CEO da GreatCinema, responsável pelo @Cinema. “Pelo estudo que fizemos, sabemos que 80% das pessoas que vão ao cinema no Porto e em Lisboa estão focados [no cinema-espectáculo].” E, por isso, justifica, decidiram-se por esta fórmula. Contudo, a exibição de blockbusters não é inovadora na oferta, com os multiplexes a apostar nos filmes que, repetidamente, são os mais vistos em Portugal – em 2012, foi o caso dos super-heróis Os Vingadores e este ano, não fora o fenómeno A Gaiola Dourada, o filme mais popular nas salas portuguesas seria Velocidade Furiosa 6.
“Esta oferta existe noutras salas, obviamente que sim, é a que mais existe”, admite Francisco Serranito, que durante mais de duas décadas trabalhou em cinema, mas na logística e transporte de filmes com a empresa Movielismotion. “[Mas] a oferta blockbuster com tecnologia de ponta, bom serviço de cliente e baixo custo não conheço.” A programação terá "grande rotatividade" – tal como os restantes exibidores, a GreatCinema estará atenta aos números de espectadores que cada título fará nas suas salas, mas assume que vai reagir aos dados para "aumentar a percentagem de audiências".
O átrio da zona dos cinemas do centro comercial foi redesenhado e mostra um dos segredos para o preço dos bilhetes (quatro euros), que será igual para a primeira sala em Portugal equipada com o sistema de som Dolby Atmos ou para o outro ecrã do novo cinema (e para filmes em formato 3D, 2D ou HFR, a projecção com frequências superiores a 24 imagens/segundo): a parceria com marcas como a Vodafone, que dá o nome à sala nobre, com o sistema Atmos e com capacidade para 202 espectadores, ou com marcas que fornecem as bebidas. “Pela primeira vez temos sponsors a patrocinar salas de cinema, não recintos ou eventos”, admite o responsável pelo @Cinema. “Quando trabalhamos com capitais próprios, sem financiamentos, a pronto pagamento e sem dívidas, é óbvio que qualquer sponsor tem uma importância colossal”, acrescenta.
O primeiro filme do @Cinema, que ocupará as suas duas salas, é O Hobbit – A Desolação de Smaug, o segundo capítulo da adaptação da obra de J.R.R. Tolkien ao cinema pelo realizador e aficionado da aplicação da tecnologia ao cinema Peter Jackson. Os óculos para 3D da sala principal são diferentes dos usados nos cinemas já existentes em Portugal e são para devolver no final da sessão, outra forma de manter o preço do ingresso mais baixo. A seguir ao segundo Hobbit, entrará em cena Ronin 47, protagonizado por Keanu Reeves, e o já premiado Golpada Americana, com Chistian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Robert de Niro.
A sala 1, sem patrocinador que lhe dê outro nome, tem capacidade para 153 pessoas, que podem comprar os bilhetes numa bilheteira convencional ou aos colaboradores da @Cinema que andarão, de tablet na mão, pelo centro comercial. Mas também, no futuro, “pelas praias ou pelas festas populares” – isto porque, apesar das cautelas de Serranito quando questionado pelo PÚBLICO sobre os planos de expansão da GreatCinema, eles existem e abrangem outras salas em Lisboa e pelo país nos próximos meses.
O investimento da GreatCinema é de cerca de 500 mil euros, segundo a empresa diz em comunicado, 70% dos quais na abertura destas duas salas. A instalação do sistema Dolby Atmos, que faz com que um aguaceiro no interior da sala se torne numa tempestade que nos envolve por todos os lados ou que uma canção rode em torno da sala, será uma fatia significativa dessa quantia, um “capital considerável”. O Dolby Atmos, segundo David Hernandez, director comercial para o Sul da Europa da Dolby, cria “uma sensação imersiva, realista”, porque o som passa em diferentes canais nas diferentes colunas das salas, que estão também no tecto. “As tecnologias são de primeira geração e qualquer tecnologia que seja nova, no seu início, é extremamente cara”, diz Francisco Serranito.
A apresentação do novo cinema ocorre no dia em que se soube que se acentuou a quebra na frequência dos cinemas portugueses: perdeu-se quase um milhão e meio de espectadores nos últimos onze meses. Se entre Janeiro e Novembro de 2012 foram vendidos 12,4 milhões de bilhetes, no mesmo período deste ano já só foram comprados 10,9 milhões. A perda de 1,45 milhões de ingressos representou ainda uma quebra de 16,5 milhões de euros nas receitas brutas das bilheteiras, segundo números do Instituto do Cinema e do Audiovisual. Francisco Serranito, no átrio do seu novo cinema, fala em "contraciclo" e no facto de, em crise, "as pessoas precisarem de distração".
As salas do Saldanha Residence estão encerradas desde Maio de 2011, quando a Medeia Filmes, de Paulo Branco, deixou a exploração dos seus quatro ecrãs - há coisas que nunca mudam na ida ao cinema naquele espaço e, a par do efeito do Dolby Atmos, as sessões continuam a ser cadenciadas pelo som, lá longe, da passagem do metropolitano no subsolo. No final de Novembro, as três salas do King, também de Paulo Branco, fizeram as suas últimas sessões. Na semana passada, a produtora Midas Filmes, de Pedro Borges, anunciou a remodelação e reabertura da sala do Largo Camões, agora baptizada como Cinema Ideal, na Primavera do próximo ano.
Notícia corrigida às 19h de dia 11 de Novembro: onde se lia "o maior exibidor português" corrigiu-se para "o segundo maior exibidor português".