Temporada de ópera do São Carlos nos mínimos para celebrar Verdi
Os constrangimentos orçamentais e os prazos condicionaram a programação da temporada de ópera revelada ontem: uma trilogia de óperas de Verdi que serão criadas pela mesma equipa e que partilharão um cenário com elementos em comum
Mas a ópera no Teatro Nacional São Carlos, em Lisboa, vai funcionar, embora reduzida ao serviço mínimo. No ano do bicentenário do nascimento do compositor italiano Giuseppe Verdi a efeméride será celebrada com três óperas, produções próprias do São Carlos:Il Trovatore (10, 30 de Abril e 7 de Maio às 20h; 14 de Abril às 16h), La Traviata (12, 16 de Abril e 2 de Maio às 20h; 28 de Abril às 16h) e Rigoletto (3, 9 e 11 de Maio às 20h; 5 de Maio às 16h).
Para optimizar os recursos financeiros, diz Martin André, a criação das três óperas será realizada com a mesma equipa criativa, constituída pelo próprio Martin André (direcção musical), por Francesco Esposito (encenação), por Mauro Tinti (co-cenógrafo), por Fabio Rossi (desenho de luz), pelo coro do São Carlos (maestro titular: Giovanni Andreoli) e pela Orquestra Sinfónica Portuguesa. Também algumas figuras do elenco de actores-cantores dos principais papéis se repetem (Agostina Smimmero, Giovanni Furlanetto ou Joana Seara) e acabarão por participar em mais do que uma das criações. Para além dos constrangimentos orçamentais, existiu também pouco tempo para a planificação: "Só no fim de Novembro recebi o orçamento, antes não podíamos fazer nada e acabámos por conceber este conceito de trilogia com as mesmas pessoas", afirma.
As opções criativas foram condicionadas e não são dissociáveis das dificuldades orçamentais, daí que também o cenário das três óperas venha a apresentar elementos comuns. Segundo Martin André, que chegou à direcção artística do São Carlos em 2011, a redução orçamental em relação à temporada anterior foi de mais de 70%. João Villa-Lobos, membro do conselho de administração da Opart, a entidade que gere o São Carlos, precisou que o corte foi exactamente de 72%.
Esse corte, anunciado em Janeiro de 2012, apanhou a temporada anterior já em andamento e o São Carlos viu-se obrigado a cancelar três das sete óperas já programadas. Este ano, o orçamento para programação será o mesmo de 2012, diz Villa-Lobos, já com a redução de 72%. O São Carlos esclareceu ainda que para a programação já apresentada dispõe de um orçamento de 650 mil euros, ou seja, para programação do primeiro semestre.
Nestas condições, defende o crítico do PÚBLICO Augusto M. Seabra, a temporada de ópera do São Carlos acaba por ser "uma não temporada". "Não faz sentido nenhum, uma temporada com esta falta de meios."
Quando perguntamos a Martin André porque é que um outro bicentenário, o do nascimento de Wagner, não foi tido em conta, limita-se a encolher os ombros e a sorrir: "É impossível com um orçamento tão magro."
Antes da divulgação ao PÚBLICO da temporada de ópera já se sabia que, entre Janeiro e Fevereiro, se irá realizar um ciclo de nove concertos sinfónicos, que Martin André diz só ter sido possível porque os intervenientes aceitaram cachets abaixo do habitual e que, no próximo mês de Fevereiro, serão celebrados os 20 anos da Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP).
As comemorações exploram as mais variadas áreas da sua actividade: lírica, sinfónica e pedagógica. No contexto da actividade lírica, no dia 2 de Fevereiro, Elisabete Matos e a OSP apresentam excertos de óperas de Verdi, Wagner e Britten (deste compositor comemora-se também o centenário do nascimento). A 9 de Fevereiro iniciam-se as celebrações ligadas à música sinfónica com Artur Pizarro e Luís Tinoco com o concerto para piano e orquestra nº2 de Brahms e a estreia da obra encomendada a Luís Tinoco para estas comemorações da OSP. Os metais e percussões da OSP realizam a 15 de Fevereiro um concerto único com obras como Bolero de Ravel, ou Carmen de Bizet, enquanto a 16 um dos agrupamentos de câmara da OSP dará um concerto de entrada gratuita.
O que ainda não se sabia é que, a 18 de Maio, haverá uma noite dedicada ao fado, com uma série de figuras conhecidas ainda não reveladas. "Estamos sempre abertos a coisas diferentes, não somos um museu, espectáculo é espectáculo", afirma Martin André, que diz não estar no seu horizonte abandonar o cargo, apesar de todos os constrangimentos.