Tabu de Miguel Gomes em 46 salas francesas

É mais um passo na internacionalização do cineasta português que não pára de aparecer na imprensa estrangeira. Em janeiro fará parte do popular festival Télérama.

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Os actores Carloto Cota e Ana Moreira

As salas de Paris em que Tabu vai passar mostram habitualmente filmes independentes e têm um público habituado ao cinema de autor, diz Lucie Commiot, da distribuidora francesa Shellac. Mas em Janeiro, Tabu fará parte de um dos 15 filmes do Festival de Cinema Télérama, que se espalha por mais de 200 salas em França e cujo cartaz é escolhido pelos jornalistas da revista de cinema mainstream Télérama.

Ou seja, se as 46 salas são “um bom número, melhor do que a média”, já o facto de estar incluído no Télérama sete semanas depois da estreia é “muito bom”, pois vai chegar a outro tipo de público. O festival serve de garantia a uma carreira mais longa em sala, se a estreia correr bem, acrescenta a programadora. Segundo Lucie Commiot, o tempo que fica em sala – “quatro semanas já é bom” – é determinante para o sucesso de público. O Gebo e a Sombra, último filme do realizador português mais conhecido em França, Manoel de Oliveira, estreou em cerca de 40 salas, disse a programadora da Shellac, que também o distribui.

Esta foi mais uma etapa no circuito internacional de Tabu, que a 20 de Dezembro estreia em 25 salas na Alemanha, depois em 25 cidades nos Estados Unidos, incluindo Nova Iorque, e em 2013 estreia em Itália, Brasil, Argentina e Japão - já estreou no México, Canadá, Reino Unido, Rússia, Áustria e Suíça. Também quarta-feira é editado o livro pelo antigo crítico dos Cahiers, Cyril Neyrat, No sopé do monte Tabu - O cinema de Miguel Gomes.

Seleccionado para o oitavo lugar da lista dos melhores filmes de 2012 dos Cahiers, foi um dos destaques da última edição de uma das revistas de cinema europeias mais influentes – e Miguel Gomes entrevistado. O filme é o “acontecimento de cinema da semana” em França, segundo Commiot e o realizador foi entrevistado pelos jornais Le Monde, Libération e pela revista Inrockuptibles. Na terça-feira, podia ler-se na crítica do Le Monde online que Miguel Gomes era “o realizador português mais allumé desde o desaparecimento de João César Monteiro”.

Por seu lado, Lucie Girre, do gabinete de comunicação da Associação Francesa de Cinemas de Arte e Ensaio, diz que é difícil prever o impacto do filme em França, mas lê o facto de estar no Festival Télérama como uma vontade do festival “dar uma oportunidade a ser descoberto pelo público”.

Pierre Murat, crítico de cinema da Télérama que participa na selecção do festival, lembra que a revista, que fala de todos os filmes, já fez grandes destaques com Manoel de Oliveira, e mais recentemente falou de João Pedro Rodrigues e de João César Monteiro: mas Tabu é um “caso à parte, é verdade”. “O realizador François Ozon falou-me do filme no Festival de Berlim onde ele era júri”, diz por email. Geralmente, poucos media falam de filmes portugueses, além de Oliveira, contextualiza. “Há um pequeno ‘buzz’ estranho à volta de Tabu. O fascínio muito real que Miguel Gomes provoca desdobra-se num ligeiro snobismo parisiense – mas isso não interessa nada, o que interessa é falar do filme”.

No festival, Tabu será um dos filmes “mais difíceis”, acrescenta, como Holy Motors, de Leos Carax e The Deep Blue Sea, de Terence Davies. “A nossa esperança é que os espectadores que vão ver os filmes mais acessíveis (como os de Jacques Audiard, François Ozon ou de Wes Anderson) sejam tentados pelas ‘aventuras’ mais originais. Neste sentido, Tabu é uma aposta. E uma felicidade”.

Para o produtor Luís Urbano, de O Som e a Fúria, a inclusão de Tabu no Télérama “significa que terá um segundo fôlego” e dá “a oportunidade de chegar a um público que é enorme” (em 2011, o festival teve mais de 300 mil espectadores). Urbano olha para a cobertura jornalística de Tabu com optimismo, dizendo que vai ser “provavelmente a maior estreia de sempre em termos mediáticos de um filme português em França”.

Tabu teve “uma quase unanimidade da crítica e um entusiasmo bastante grande”, lembra, algo que tem a ver com “a proposta de Miguel Gomes” – “um filme que regressa às memórias do cinema” e que “consegue equilibrar de modo muito feliz o lado das emoções, algo que está um pouco arredado do cinema contemporâneo”. Ao mesmo tempo, “soube beneficiar e tirar partido das co-produções” com o Brasil, França e Alemanha. Ou seja, ser “um bom filme, ter uma boa crítica e poder económico para comprar páginas de publicidade” em publicações da especialidade foram factores que ajudaram a internacionalização.

Em Portugal, Tabu fez 21.300 espectadores, “número normal no mercado português e cinema de autor”: “Se tivesse tido menos espectadores tinha ficado triste. Gostava que tivesse tido um pouco mais, mas estou contente”. Tabu foi um dos filmes portugueses mais bem recebidos pela crítica em Portugal. 

Notícia alterada às 19:50, acrescenta declarações de Pierre Murat
 
 
 

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