Sophia vai entrar no Panteão

A Assembleia da República deverá aprovar em breve a trasladação do corpo de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) para o Panteão Nacional. A família da escritora já aprovou a resolução e falta apenas marcar a data da cerimónia, que deverá coincidir com as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril

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Daniel Rocha

A decisão foi discretamente acordada entre os diversos grupos parlamentares ainda no final de 2013, e já obteve o acordo da família de Sophia. O PÚBLICO soube que deverá ser a própria presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, a levar a proposta ao plenário, o que deverá suceder nas próximas semanas.

A ideia foi lançada por um artigo de opinião do escritor José Manuel dos Santos – intitulado “Sophia de Mello Breyner no Panteão Nacional” –, que saiu na edição de 17 de Novembro do PÚBLICO e motivou os deputados Marco Perestrello, do PS, e Nuno Encarnação, do PSD, a levar o projecto ao Parlamento.

Conselheiro cultural dos ex-presidentes da República Mário Soares e Jorge Sampaio, José Manuel dos Santos recordava no seu artigo que a poesia da autora e a sua intervenção política eram duas faces de uma mesma moral, e que “a coragem de Sophia era uma ética e a sua lucidez um compromisso com o mundo e com os homens que o habitam”. E tendo justamente em conta esta sua reconhecida dimensão cívica, José Manuel dos Santos sugeria que 2014, quando “passam dez anos sobra a morte de Sophia e 40 anos sobre a Revolução do 25 de Abril”, seria “a boa data” para que Portugal lhe concedesse “as honras de Panteão Nacional”.

Obtido o consenso parlamentar e o acordo da família, a decisão só não terá sido já noticiada porque a recente morte de Eusébio, e a polémica que se gerou em torno da sua eventual entrada no Panteão Nacional, terá levado os deputados a entender que seria prudente esperar algum tempo e não acrescentar o nome de Sophia à controvérsia.

A escritora Maria Andresen, filha de Sophia, confirmou ao PÚBLICO que foi contactada pela Assembleia, que expôs a questão à família e que, não tendo havido “objecções de fundo”, esta deu o seu acordo à trasladação do corpo da escritora. Elogiando o texto de José Manuel dos Santos, Maria Andresen concorda que este tenha sublinhado a intervenção cívica de Sophia, e não apenas a importância literária da sua obra. E lembra que a mãe escreveu “o poema mais bonito sobre o 25 de Abril” que conhece: “Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo”.

Por todas estas razões, e sublinhando que fala a título pessoal e que a decisão não lhe cabe, reconhece que “preferia que a cerimónia fosse no dia 25 de Abril". Também o seu irmão, o escritor e jornalista Miguel Sousa Tavares, manifestou a mesma preferência, em declarações à rádio TSF, afirmando ainda que a família se “sentiu honrada com a distinção”.

Já a eventual vizinhança de Eusébio, que em todo o caso chegaria mais tarde ao Panteão, não perturba nada a filha de Sophia. “A Amália e o Eusébio eram génios, e acho muito bem que lá estejam; incomodam-me mais aqueles Presidentes da República”, diz Maria Andresen.

A principal dúvida que subsiste é agora a da data da cerimónia de trasladação, mas, segundo o PÚBLICO apurou junto de fonte parlamentar, deverá sempre ocorrer numa data que permita a ligação às comemorações dos 40 anos do 25 de Abril.
 
 
 
 

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