Rosa Lobato Faria morreu aos 77 anos

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A actriz foi internada há uma semana Mário Santos/Porto Editora

Rosa Lobato Faria estava internada num hospital privado de Lisboa há uma semana devido a anemia e já há mais de seis meses que sofria de complicações devidas a uma cirurgia motivada por uma infecção intestinal. É viúva de Joaquim Figueiredo Magalhães, editor literário, desde 26 de Novembro de 2008.

O corpo de Rosa Lobato Faria vai estar amanhã de manhã na Igreja de Santa Isabel, perto do Largo do Rato, em Lisboa, onde decorrerá uma missa pelas 15h00, disse à Lusa um familiar. Depois da celebração, o funeral sairá para um cemitério de Lisboa, mas a fonte disse ainda desconhecer qual. Sendo que a actriz será cremada, os cemitérios de Alto S. João e Olivais são as únicas possibilidades em Lisboa.

"É uma grande dor e uma grande perda", lamenta Manuel Alberto Valente ao PÚBLICO, que editou o primeiro romance da autora - "Para além de ser muito bem escrito, trazia para a área da ficção essa marca poética muito forte de todo o trabalho dela" - e quase toda a sua obra desde então.

"Foi crescendo entre nós uma amizade muito grande. Eu era uma das primeiras pessoas a ler cada original que ela terminava. Tinha prometido entregar-nos brevemente o novo romance que queria publicar ainda este ano. Não sei em que fase estava da escrita desse romance, mas vou agora tentar saber junto da família."
Lauro António, realizador de cinema que dirigiu Rosa Lobato Faria em "Paisagem Sem Barcos" (1983) e "O Vestido Cor de Fogo" (1986), elogia a sensibilidade e a elegância da actriz, que "ao mesmo tempo [era] muito intensa ao nível das suas convicções e paixões". O realizador assinala ainda que "a imagem que se tinha dela correspondia muito à sua essência. Tinha uma beleza interior e exterior e uma certa serenidade – curiosamente aproveitei essa serenidade para lhe dar papéis em que era fria, distante, personagens um pouco hipócritas".

"E, não sendo uma feminista militante, tinha uma personalidade forte, e deu um bom retrato da mulher, ajudando a alterar a imagem da mulher em Portugal nos últimos 50 anos", sublinha Lauro António ao PÚBLICO.

O Ministério da Cultura manifestou, em comunicado, "grande pesar pelo falecimento" da poetisa e romancista, destacando que "a actividade que desenvolveu na área da escrita, fundamentalmente como autora de romances, mas também de poemas, contos, peças de teatro, argumentos para televisão e letras de músicas e, ainda, como actriz em filmes e séries televisivas constituem um legado que atesta a sua criatividade e extrema sensibilidade e que perpetuará como fonte de inspiração para novas gerações".

Da poesia ao romance

A escritora (poeta e romancista) e actriz nasceu em Lisboa em abril de 1932. O seu primeiro romance, "O Pranto de Lúcifer", foi editado em 1995, mas publicara já antes vários volumes de poesia - como "Os Deuses de Pedra" (1983) ou "As Pequenas Palavras" (1987). O essencial da sua poesia está reunido no volume "Poemas Escolhidos e Dispersos" (1997). Em 1999, na ASA, publica "A Gaveta de Baixo", um longo poema inédito acompanhado por aguarelas do pintor Oliveira Tavares.

Como romancista publicou ainda "Os Pássaros de Seda" (1996), "Os Três Casamentos de Camilla S." (1997), "Romance de Cordélia" (1998), "O Prenúncio das Águas" (1999, que foi Prémio Máxima de Literatura em 2000) e "A Trança de Inês" (2001). Escreveu também "O Sétimo Véu" (2003), "OsLinhos da Avó" (2004), "A Flor do Sal" (2005), "A Alma Trocada" (2007) e "A Estrela de Gonçalo
Enes" (2007), além de ter assinado vários livros infantis. Os dois primeiros romances tiveram tradução na Alemanha e "O Prenúncio das Águas" foi publicado em França pelas Éditions Métailié. O seu último livro, "As Esquinas do Tempo", foi publicado em 2008 pela Porto Editora.

Como actriz, Lobato Faria integrou o elenco da primeira novela portuguesa, "Vila Faia" (1983), e trabalhou com Herman José em "Humor de Perdição" também como argumentista. Filmou com João Botelho ("Tráfico, de 1998, e "A Mulher Que Acreditava Ser Presidente dos Estados Unidos da América", de 2003). Foi também dirigida por Lauro António em "Paisagem Sem Barcos" (1983) e "O Vestido Cor de Fogo" (1986). Estreou-se como locutora na RTP na década de 1960.

Escreveu ainda dezenas de letras para canções, muitas delas para festivais da canção. Entre elas o conhecido "Chamar a Música", interpretado por Sara Tavares.

Notícia actualizada às 19h54
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