Renoir comprado a cinco euros numa feira da ladra vai ser devolvido ao museu
Professora gostou da moldura da pequena pintura que comprou juntamente com bonecos de plástico numa feira da ladra. Descobriu depois que tinha sido roubada do Museu de Arte de Baltimore e que valia cerca de 70 mil euros.
Tal como o comprador de um Van Dyck cuja história se tornou programa de televisão no Reino Unido, a professora Marcia Fuqua gostou da moldura que envolvia a obra que Renoir pintou para a sua amante num restaurante parisiense à beira-rio e comprou a obra, além de um conjunto de bonecos de plástico numa feira da ladra em Harper’s Ferry, no vale de Shenandoah, na Virgínia. E também como aconteceu ao padre britânico que teve nas mãos uma pintura flamenga sem saber o seu real valor, a moldura deste Renoir identificava-o: nela lê-se “Renoir (1841-1919)”. Mas a pintura em si não estava assinada. A sua compra foi lucrativa: por sete dólares, cerca de cinco euros, ficou com uma obra que valerá entre 55 mil e 73 mil euros.
A história de um tesouro artístico não exactamente escondido no sótão mas perdido à vista de todos numa feira de objectos usados tornou-se pública depois de a mãe de Fuqua, professora de arte, ter aconselhado a filha a avaliar a pintura. Depois de ter sido confirmado que se tratava de um verdadeiro Pierre-Auguste Renoir, Paysage Bords de Seine foi levada a leilão em 2012 pela Potomack Company, que representava Fuqua e que avaliara a pintura num máximo de 73 mil euros. Mas um jornalista do Washington Post concluiu antes da ida ao mercado que se tratava da obra subtraída ao Museu de Arte de Baltimore há mais de 60 anos. O FBI confiscou a obra de 1879 e, segundo a Reuters, terá avaliado a pequena pintura em cerca de 16 mil euros.
Pouco se sabe sobre o que aconteceu à pintura entre 1951 e o momento em que emergiu depois de décadas de incógnitas num mercado nos EUA, mas Fuqua defendeu sempre que a obra lhe deveria ser devolvida por não saber que se tratava de um objecto roubado nem de que se tratava de um Renoir original.
Mas o desfecho da história não lhe foi favorável. A sua pretensão de ser designada a proprietária legítima foi considerada sem provimento – “O museu [de Arte de Baltimore] apresentou uma quantidade extensa de provas documentais de que a pintura foi roubada”, disse a juíza Leonie Brinkema, citada pela imprensa americana. “Todas as provas estão do lado do museu de Baltimore”, disse, antes de firmar que o título de propriedade de um objecto não pode ser transferível se a mudança de mãos resultar de um roubo. A questão era um pouco mais complexa porque a pintura tinha sido emprestada ao museu em 1937 pela sua mecenas Saidie May, que morreu em Maio de 1951 e deixou o Renoir em herança à instituição – mas, aquando do seu roubo, a pintura estava a ser alvo da transferência legal de propriedade, pois estava ainda listada como um empréstimo, explica a Reuters.
Agora, 63 anos depois de ter ficado sem o seu pequeno grande Renoir – mede 14x 23 cm –, o museu diz em comunicado, citado pelo The New York Times, estar ansioso por “celebrar a vinda da pintura para casa com uma instalação especial nas galerias no final de Março”.